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Union Theological Seminary - Olá, olá, olá! Sejam muito, muito, muito bem- vindos à terceira aula do minicurso gratuito "Os caminhos da ficção", trazida para vocês pelo canal Escrita Criativa. Hoje é meio-dia, dia 15 de fevereiro de 2018. A gente está oficialmente começando o ano. Deixa eu abrir aqui o meu outro computador, a janelinha, pra poder vê-los. Aqui! Olá, quem está? Vocês estão bem? Estão me vendo bem, estão me ouvindo bem? De onde vocês estão falando? Como passaram o Carnaval? A gente está no dia seguinte depois de uma terça-feira gorda de uma quarta-feira de cinzas, então a gente espera ter bastante gente hoje. Mas tem muita gente que está viajando e tal. Bom, sejam muito bem-vindos! Olá, Janine! Olá, André, olá, André, olá, Francine! Oi, Andrea, tudo bom? Pedro, como vai? Rio de janeiro, maravilha! Pessoal, bacana quem mais? Quem mais? André, olá! André de Manaus, que maravilha! Bom pessoal, eu queria começar fazendo uma pergunta pra vocês. E que é o tema essencial dessa nossa 3ª aula. A gente já conversou sobre as liberdades autorais, sobre o estilo de vida do escritor, sobre a construção de um percurso autoral. Na 2ª aula a gente falou sobre alguns medos que podem bloquear o teu processo criativo, a tua escrita, né? A gente falou sobre a ideia da falta de tempo. Agente falou da ideia da falta de disciplina para criar. A gente tratou, abordou essas ideias, e hoje a gente vai falar mais especificamente sobre o fazer literário, sobre o escrever. Hoje é uma aula, a gente na verdade, a gente tem uma aula aí de 30 a 40 minutos, ou seja, temos um tempo limitado, e na semana que vem a gente vai falar sobre publicação, sobre como publicar um livro eu já vou entrar nesse detalhe mas eu queria começar perguntando pra vocês: vocês padecem de excesso de ideias? Pergunto pra vocês porque eu padeço muitas vezes de excesso de idéias. O meu desafio, e cada um nasce com seus próprios desafios que tem que contornar. Ninguém está zerado, né? O meu desafio é escolher uma ideia, entre várias idéias que eu acharia muito bacana de escrever, de elaborar. Eu já me aventurei por literatura de viagem, ficção experimental, romance psicológico fui pela literatura policial e eu tenho uma vontade de explorar os gêneros. Eu adoro ficção científica, gosto muito de pensar em distopias. Eu sou um cara que assisti muito filme também, que houve muita música. Então eu tenho um problema, que é: eu me interesso por muita coisa. Mas eu conheço gente...tava falando outro dia com o colega amigo meu, que ele fala: "Bom, eu não tenho essa dificuldade, porque eu tenho uma ideia, ou seja, é muito difícil achar uma ideia, então, já que é tão difícil achar uma ideia, eu me agarro a ela e eu vou com ela até o final." E a outra pergunta que eu queria fazer pra vocês é se vocês têm alguma dificuldade, não só na escrita mas, por exemplo, pra organizar uma apresentação, pra organizar uma fala. De organizar essas ideias, de criar uma sequência, de criar um fluxo, de criar uma fluência dessas idéias. Por que que a gente está falando disso? Porque a literatura é a fluência entre as ideias, é o encadeamento de ideias. É uma certa organização que a gente compõe entre diversas partes de uma narrativa, sejam essas narrativas uma narrativa feita de pequenas narrativas aparentemente desconectadas, como é o caso de um livro de contos. A terceira pergunta é: você tem alguma dificuldade, de repente de...Você pode me falar: "Tiago, eu sou muito bom para escrever post. Eu sou muito bom para escrever post!" Ou: "Eu sou muito bom com os fragmentos, eu tenho ideias, grandes sacadas, fichas que caem. As pessoas gostam! Então, eu tenho muita dificuldade de passar desse âmbito, né, da ideia pontual, para o âmbito da estrutura de um grande romance. Eu não consigo organizar um livro de contos, eu não consiga organizar uma história infanto-juvenil, uma fanfic que eu quero, porque eu sou muito pontual , eu sou, vamos dizer, eu estou um pouco à mercê do momento. E os momentos, pra mim, eles não se encadeiam tão facilmente na minha cabeça. Muito menos no âmbito ficcional, muito menos na hora de escrever. Como que eu posso fazer para estimular esse, essa, essa assunção dessa estrutura. Bom, pessoal, eu vou compartilhar a minha tela com vocês. Oxalá, que funcione como da outra vez. Me confirmam se funciona. Agora estou vendo aqui. Vamos ver! Olá, Jéssica. "Falta de foco é um problema pra mim. Navegar em um mar de pensamentos inacabados." Pois é, esse é um mal. Esse é o mal do nosso século. Que normalmente somos bons representantes do nosso século. Bom, gente, sejam muito bem-vindo mais uma vez ao "Caminhos da ficção". Essa é a tela inicial. Eu não sei se eu cheguei a me apresentar mas eu sou Tiago Noaves, sou o escritor, sou professor de escrita criativa, já trabalhei como correspondente internacional freelance, já fui tradutor, sou tradutor. Enfim, já percorri vários caminhos, produtor cultural, e já percorri vários caminhos possíveis da criação autoral. Essa é a terceira aula do "Caminhos da ficção", para quem está chegando agora. Gente só um detalhe: amanhã, amanhã não, semana que vem, quarta aula, quinta-feira ao meio dia, a gente vai contar com uma convidada ilustre. Ela é simplesmente, vamos dizer, a representante brasileira da maior livraria virtual do mundo. Eu estou falando da Amazon! A gente vai estar aqui, ao vivo, conversando com a Talita Taliberti, que é a responsável pelo Kindle Direct Publishing. A gente vai falar sobre os segredos da autopublicação no encontro, uma conversa, um bate-papo delicioso, com certeza, de 40 a 45 minutos e eu também gostaria de dizer que semana que vem, no início da semana, eu vou fazer um grande anúncio. Eu imagino que muitos de vocês já estejam imaginando que anúncio é esse. Então fiquem ligados, e se inscrevam no escritacriativa.net.br, porque esse anúncio eu faço para aqueles que seguem o canal Escrita Criativa. Não faço para os de fora, eu faço para os de dentro. Tá bom! E o tema da nossa alma: "Como estruturar uma obra". Eu acho que muitos de vocês já devem ter passado por isso, numa monografia, na elaboração de uma apresentação e o fato é que toda obra gente, não se enganem, toda obra exige uma organização, né? Até o caos simulado ficcionalmente é uma forma de organização dentro de um livro. Isso porque o caos pode caber como expressão dentro de um livro, mas um livro é limitado a um certo número de páginas, ou seja, ele tem uma abertura, ele tem um final, ele tem uma organização, e de alguma forma todo o caos é um efeito, é um artifício dentro da obra. E, eu acho que uma forma de apresentar é: a obra, ela é uma questão de ordem econômica e pulsional. Quando a gente fala de excesso de ideias, quando a gente fala de falta de ideias, a gente está falando aqui de como manejar, pulsionalmente, a nossa capacidade de organização simbólica. "Nossa, gente, muito difícil isso, Tiago!" Calma, eu vou explicar isso. Mas o fato é que todo o texto ele vai ter uma dimensão microestrutural e macroestrutural, por isso que o bardo, ele tem que ter três olhares distintos. Quando a gente organiza um livro, a gente precisa de três olhares distintos. O primeiro olhar, é um olhar, é uma mirada microscópica, né? Que que é a mirada microscópica? O autor, ele precisa estar de olho na frase, ele inverte muitas vezes uma frase, ele inverte uma frase com a outra. Ele organiza o parágrafo, ele pensa em termos, ele caça muitas vezes um termo que ele acha interessante. Ele está atrás do âmbito da frase, do âmbito da palavra. Nesse sentido, ele tem um olhar voltado para aquilo que é microscópico na prosa. Ao mesmo tempo, o segundo olhar dele é um olho nu. Um escritor precisa estar a olho nu, no sentido de que ele precisa estar entregue, ele precisa estar aberto para a realidade do seu entorno, ele precisa perceber os movimentos que o circundam. O público, ele gosta disso, as pessoas gostam de ler, muitas vezes até em obras de ficção científica, aquilo que é banal também, né? O banal não é banal, né? Na verdade a literatura destaca o, vamos dizer, o extraordinário no ordinário. Qual que é o momento em que eu me identifico (vou dar um exemplo do cinema), qual que é o momento em que eu me identifico com o android do Ryan Gosling, lá do Blade Runner, do último filme do Blade Runner 2049? Quando ele chega em casa no final do dia, abre a porta, e você vê que ele tem um apartamento, você vê que ele tem uma casa, você vê que ele tem uma solidão que a gente pode habitar com ele, né? Que que é isso? É um momento banal. É banal? Ao mesmo tempo não é banal, aí é que está! Ele ali, descansando, baixando a guarda, é um momento em que você fala: "Nossa, eu também posso ser um android.". É claro que não, mas você entende o que estou dizendo, né? E, ao mesmo tempo, tem um terceiro olhar, né? Tem um primeiro olhar microscópico, um segundo a olho nu, e tem um terceiro olhar, que é o olhar de sobrevoo. Então, o escritor, ele precisa de uma forma, olhar para os andaimes da sua construção. À medida que ele vai construindo, ele vai precisar olhar para os andaimes dessa construção. Por que? Porque o livro é mais ou menos como uma bolacha, um vinil. Eu ganhei recentemente uma vitrola. Fazia tempo que eu queria comprar uma vitrola, porque o som na vitrola é muito bom, né? E o vinil, ele é organizado em faixas, um pouco como um disco, antigamente, a fita cassete. São faixas: a primeira música tem uma razão de ser ali, a segunda música, ela tem que necessariamente vir depois da primeira. É a mesma coisa! Quando você olha uma obra, uma antologia de contos não é simplesmente um punhado de contos na antologia. Uma antologia de contos ela é uma composição, né? Então, desse modo, o autor, ele é um escultor e um arquiteto. Ele esculpe, ou seja, ele está num nível microestrutural do texto e, ao mesmo tempo, um arquiteto; ele está no nível macroestrutural da obra, né? E, ao mesmo tempo, ele também tem que habilitar essa obra, ele tem que estar nessa casa, ele tem que manipular os objetos, né? Eu acho que essas são talvez as vertentes principais. E a gente passa por uma pergunta que é: "Bom, então como é que organizo essas ideias dentro dessa macroestrutura?" Eu vou dar alguns exemplos para vocês que eu imagino que vão iluminar, dar ideias muito bacanas pra vocês. Como que você pode encadear sua proposta. Em geral, é uma coisa muito importante para dizer, eu digo sempre os meus alunos, (deixa eu tomar um gole do meu chazinho aqui, peraí). Em geral, o próprio tema, a própria história que pede uma forma. A forma, ela nasce das coisas. Normalmente a nossa história pede a forma. "Nossa, Tiago, estou totalmente perdido!". É porque, talvez, você esteja se esforçando demais pra encontrar a forma. Você tem que deixar essas ideias falarem. Você tem que deixar que essas ideias componham o seu próprio formato. Você não pode constranger a tua história a uma forma. Você fala: "Não, tem que ser isso."! Muitas vezes, a história que te pede uma forma, muitas vezes ela te pede uma forma que você nunca viu, uma forma muito estranha, uma forma que seria muito singular essa forma. No entanto, justamente por ser singular que essa forma pode ser interessante. E é preciso obedecer é isso, né? Ainda que essa forma soe muito estranho. Vou dar três exemplos. O primeiro exemplo é um exemplo pessoal. Vou aqui falando do meu primeiro romance. Eu ganhei uma bolsa do PROAC para escrever um romance. É um romance policial. E por que que eu estou falando da bolsa? Porque, inicialmente, eles pedem um projeto, ou seja, eles já pedem uma estrutura que você mande pra Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo para ver se eles vão dar bolsa pra você ou não. E era meu primeiro romance, estava super inseguro, né? O primeiro romance da gente. Eu estava muito entusiasmado e, ao mesmo tempo, sabia que é difícil escrever um livro, né? Assim, é difícil de qualquer modo, né? A gente tá no primeiro romance. Primeiro tudo é difícil, né? É por isso que eu quis começar devagar, eu acho que eu comecei com o romance policial, porque no romance policial cada personagem do elenco vai entrando na cena, em cada cena de uma forma mais vagarosa, e se apresentando. E cada traço desse personagem se apresenta como uma pista, ou como uma série de pistas, ou como uma pista escondida naquilo que é acessório, né? Os detalhes que você compõe, como a vestimenta do personagem, que parece, você cria um efeito de que aquilo é importante, mas aí você esconde o que é mais importante num detalhe que a pessoa normalmente vai passar despercebida, né? Bom, qual que é a forma mais simples? Talvez a forma mais simples seja clássica: uma estrutura de três atos. Eu tomei do teatro a minha forma, porque ela se compunha bem com aquele romance policial que eu queria escrever. Então, a primeira parte, o primeiro ato no meu romance se chamava "O homem gordo", porque eu tinha acabado de ler um livro do Dashiell Hammett, que é um autor excelente de ficção policial, chamado "O homem magro", e eu quis brincar com isso; "O homem gordo", porque o protagonista da obra ele é um sujeito de 200 e poucos quilos; ele não pode passar despercebido. Numa perseguição, ele sempre perde, né?. Eu queria criar uma figura que fosse uma figura trágica logo de cara. A segunda parte do livro se chama " Um homem louco", porque eu tô falando, é uma referência também, e a obra está cheia de referências, a uma poesia do T.S. Eliot, "The hollow men", o homem oco. E o terceiro, a terceira parte, é "Eis o homem", que é o momento da revelação. Então, tem "Eis o homem", que é a versão em português da expressão latina "Ecce Hommo", que é um livro do Nietzsche. Não sei quem de vocês gosta do Nietzsche. Eu curto muito Nietzsche. E fazia sentido. Não é só porque eu curto que eu vou colocar lá. Então, fazia muito sentido e eu pensei: "O homem gordo"; "O homem louco" e "Eis o homem". Essa era a ideia de uma estrutura de três atos. O segundo livro que eu queria exemplificar com uma estrutura é um livro que acabei de ler, assim, da Natalia Ginzburg, é uma autora italiana que eu estou descobrindo, devagar. E ela tem esse livro chamado "Caro Michele". Normalmente a gente chama Michele mulher, mas, nesse caso, o Michele é um menino. Pra quem leu o livro da Elena Ferrante, lá tem uma personagem que se chama Michele, que é um homem. E esse livro é estruturado na forma de troca de cartas, ou seja, a cada vez uma primeira pessoa assume o lugar da primeira pessoa para escrever uma carta pra alguém, né? A cada vez uma personagem assume o lugar do eu, e, curiosamente essa forma das missivas trocadas, elas mantêm uma espécie de vazio central, ou seja, você sente que a pessoa está escrevendo essas cartas, e ao mesmo tempo tem muita coisa que fica de fora, então, toda trama é construída com base nesse vazio, nesse não dito que as cartas deixam entrever. É um livro que eu acho que, talvez um dos primeiros livros...primeiros não, mas é um livro LGBT, é um livro sobre o destino trágico de uma escolha, na verdade de um destino sexual, não é uma escolha sexual. A gente não escolhe a nossa sexualidade, mas é lindíssimo! É lindíssimo. E é triste, muito triste, sabe?Mas de alguma maneira é perfeita essa escolha. Tem uma primeira frase do Tolstói em que ele fala que todas as famílias felizes se parecem, as famílias infelizes são infelizes à sua maneira E a gente estava vivendo nessa época um momento de ascensão, o momento do fascismo muito crescente, muito, muito vivo nessa época da narrativa. E pra você se afirmar, pra vocês afirmar sua identidade, pra você afirmar sua singularidade, você precisava ser subversivo, praticamente. E essa obra fala muito disso. É uma obra tocante e eu realmente sugiro que vocês entrem em contato com ela. O terceiro livro que eu gostaria de apresentar é "O jogo da amarelinha", do Julio Cortázar. É um livro que li na juventude, que joga com a ideia do caos, essa ideia do 'agora você decide'. Eu, quando era criança, tinha esse livro: ah, você quer abrir tal porta ou tal, aí você ia para tal página ou qual página. "O jogo da amarelinha" é dessa forma. Você escolhe o final, supostamente. Mas, quem leu esse livro sabe que a dificuldade desse projeto é imensa. Por que? Porque nem tudo pode ser um final, por mais que você construa uma obra perfeita ou almeje a obra perfeita, nem toda a página pode servir de final da obra e nem toda a página pode servir de começar potencial da obra. Então o que o Cortázar fez? Ele burlou o próprio projeto e ele te deu um roteirinho, né? Ou seja, o livro é organizado em forma de itens e ele falou: "Olha, você pode ir do jeito que você quiser, ou você pode seguir essa sequência. Aí, você lê a sequência, e faz muito mais sentido. Ou seja, essa ideia de simulação de um caos, que fazia todo sentido na poética do Cortázar, de uma poética dos anos 60, de experimentação, de jogo com a ideia de tempo, com a ideia de espaço, é traduzida nesse livro dessa forma. E a dificuldade de colocar isso em prática também é traduzida. Mas eu acho que essa é uma obra perfeita pra gente poder entender realmente a radicalidade da obra aberta, né? E de como muitas vezes a gente acaba abrindo mão dessa radicalidade em nome de um certo roteirinho, ainda que seja um roteiro aberto. Bom, esses são três exemplos de estruturas diferentes. E eu queria perguntar para vocês qual que seria, qual que, de repente, seria, uma estrutura que deixaria vocês à vontade para algo que vocês começam a esboçar nesse momento. Talvez essa seja uma pergunta muito antes da hora. Talvez a gente precise pensar em gênero literário, se é conto, se é crônica, se é romances, se é novela, se é literatura de não ficção. Talvez a gente tenha que pensar na ideia de crise da literatura do século 20. De qualquer maneira eu gostaria de adiantar três orientações importantes na hora de você construir a sua estrutura. Três orientações que eu acho que são fundamentais para qualquer estrutura que você vá construir. (Mikele, Mikele, é verdade. É lindo, né? O italiano é muito bonito!). Primeira orientação gente, para as pessoas que dizem: "Ah, eu me importo com a forma, eu quero escrever a minha história." Gente forma é conteúdo, vide jornal, ou TV, ou literatura, ou romance, ou qualquer outra...Cada canal que você escolhe para dizer aquilo que você quer dizer, isso também diz. Forma é conteúdo, né? A forma fala, a forma informa, a forma indica como a mensagem vai ser recebida. Ou seja, o ritmo...Se você descreve uma cena ao longo...uma cena de dois minutos ao longo de vinte páginas, você descreve ela ao longo de, sei lá, um parágrafo, isso faz diferença, isso faz toda a diferença! Ou seja, quando eu digo que eu quero contar apenas uma história, mais do que nunca eu preciso pensar na forma. A segunda orientação que eu gostaria de dar, é que é uma orientação que eu segui e que me ajudou muito a começar é: Gente, comece pelo simples, comece com simplicidade! Se você está dividido entre uma estrutura muito complexa, com 28 personagens, ou uma estrutura mais simples, narrada na primeira pessoa, numa forma de diário, comece pelo simples! Uma forma bastante consagrada pela simplicidade é, por exemplo, a viagem, né? Por que a viagem? Porque os acontecimentos esperam pelo protagonista a cada nova cidade. Outra forma bastante consagrada é a enigma. Por exemplo, um romance policial. Ou seja, cada nova cena apresenta uma pista, cada nova cena leva o personagem para um lugar diferente. Em terceiro lugar, a orientação que eu gostaria de dar é: conte uma história em voz alta. É um jogo que eu gostaria de sugerir pra vocês que é o jogo do "e daí...e daí...e daí..." O que é que eu chamo de jogo do "e daí..." Não sei quem tem filho dentre vocês, mas quando você pede para um filho teu falar: "Ah, como é que foi seu dia, o que vocês fizeram? Ou: "Como foi o passeio no shopping, sei lá". Ele vai falar : "...então, aí a gente foi tal coisa, aí a gente fez tal coisa, aí o fulano, aí o meu irmãozinho contou que depois eu bati nele, mas aí minha mãe brigou, aí, aí..." Esse é um jogo de ideias. Começa a brincar, escolha uma história, por exemplo, que vocês não queiram escrever. Porque, normalmente, a gente leva tão a sério a história que a gente quer escrever que a gente fica meio tenso, sabe? A gente põe uma roupa justa, apertada. Pegue uma história que te deixa folgado, sabe? De regata, à vontade, esticadão. E conta, e brinca, e começa a brincar com isso aí, né? Tem um livro do Foster, chamado "Aspectos do Romance", em que ele vai falar que a trama é o primo pobre da ficção. O que faz uma boa obra não é tanto o encadeamento dos fatos dentro da obra. Mas, no entanto, quando a gente lê um livro aquilo que mais te captura é a trama. A forma pode te capturar, o estilo do autor pode te capturar, mas você também está capturado pela ideia da temporalidade da sequência dos acontecimentos dentro de uma obra. Então, começa a brincar com esse jogo infantil de contar uma história e observe como as pessoas contam histórias. Isso é fascinante! Tem gente que começa pelo fim, tem gente que não gosta de construir tensão, então fala: "É, não deu certo! Eu fui lá no cartório e me dei mal!" Aí a pessoa começa a contar como foi, né? Porque aí você pergunta: "Nossa, mas como é que foi essa história?" Aí a pessoa começa a contar como foi essa história. É muito bacana! E tem gente que não. "Você não sabe!". A pessoa: "E aí, e aí, deu certo?." "Então...". Aí ela fala: "Então...Eu saí de casa..." Ela começa a recuar. "Aí eu falei com fulano, ele já adiantou que não sei o que." Será que ele conseguiu? Será que deu certo, né? E isso é muito bacana de observar! Mas indo mais a fundo, gente. Eu gostaria de começar com duas...Começar, na verdade, a aprofundar nossa discussão com dois exemplos que são dois exemplos paradigmáticos, de grandes construtores de estruturas ficcionais. O primeiro exemplo que vocês estão vendo aqui é o do Kazuo Ishiguro. Ele tem um livro chamado "O gigante enterrado". Antes de qualquer coisa, não se preocupem, eu não vou revelar spoilers, porque eu quero manter a curiosidade de vocês pela leitura desse livro. É um livro que começa um pouco devagar, mas que vai tomando uma intensidade muito, muito bonita. É um livro lindo, e que trata de questões muito profundas. Ele consegue interligar essas questões. E quais são as questões de "O gigante enterrado" do Kazuo Ishiguro? Em primeiro lugar, ele apresenta os dois protagonistas, que são um casal, um casal de velhos, e um casal de velhos sem memória. Ou seja, eles não lembram o que que aconteceu. Eles não lembram do passado, eles não lembram de quem eles foram. E o fato é que eles se dão conta de que ninguém lembra do passado, né? É quase como se todo....é quase como se encontrasse uma ideia de trauma histórico, de toda uma nação, com a ideia de serenidade. A serenidade, a gente começa a esquecer, teoricamente, das coisas. E, ao mesmo tempo, isso se identifica com o leitor. O leitor também não tem memória, né? E qual é a estrutura do gigante enterrado? É a estrutura da viagem. Ou seja, eles falam: "A gente quer...eu me lembro, ele fala para a esposa, de um filho, eu lembro que eu tive um filho, eu lembro que a gente tem um filho! Esse filho, ele mora numa outra cidade, eu não sei que cidade é essa." E eles partem totalmente às cegas, em busca desse filho. E é lindo isso, né? Ir atrás do filho. Em "Pedro Páramo", romance do Juan Rulfo, o sujeito vai atrás do pai. Nesse livro, o sujeito vai atrás do filho. São estruturas muito fortes! Estão no Ulisses. A Telemaquia é o filho... Telêmaco vai atrás do pai, Ulisses, né? "Odisseia" começa assim. O filho indo atrás do pai, depois passa para o pai, tentando voltar pra casa. Bom, essa é uma costura de um drama pessoal, da velhice, da morte, a uma escala social. Necessidade de esquecer traumas de uma guerra. É muito bacana a atualidade que ele dá, o Kazuo Ishiguro, para a lenda do Rei Artur e a távola redonda, que é uma lenda inglesa, né? No caso, o Ishiguro mora na Inglaterra. E ele emula, ele simula, as conversas do século 19. Walter Scott, um que cara escreveu um livro que se passa nessa idade medieval, e tal. E os diálogos nesse grande romance, eles são... eles vão descrevendo ações. Ou seja, e o Kazuo Ishiguro, ele simula essa forma de contar a história. Que parece um pouco démode, mas que é atualizada. O fato de a gente escrever na atualidade já atualiza um pouco qualquer coisa. A gente nunca vai conseguir simular uma uma cantiga trovadoresca, a gente sempre atualizar, porque a gente está no século 21, não tem jeito. E o que acontece, fica bacana! Esse algo de démodé no projeto, no caso do Ishiguro, fica muito bacana, né? Nessas longas falas, como ele vai descrevendo os acontecimentos. É fantástico! Os personagens, eles vão surgindo pelo caminho. Aos poucos, para que o eleitor descanse da trama principal, os capítulos passam a acompanhar os personagens coadjuvantes, e vão dando protagonismos para esses personagens coadjuvantes. Ou seja, essa é a estrutura do livro do Kazuo Ishiguro. A estrutura da viagem, a partir de um, vamos dizer, de um entrelaçamento temático entre a senilidade dos protagonistas e a necessidade de apagar os traumas, a necessidade de esquecer dos traumas históricos da guerra. No caso é a guerra do Rei Artur. Sobre as grandes atrocidades que acontecem numa guerra, que vão surgindo como um grande eixo dessa trama. Não vou falar muito mais sobre isso. E dentro de uma tentativa de emular o estilo do Walter Scott, e de outras obras parecidas. Walter Scott que é o autor de Ivanhoé, que é o autor de Rob Roy. Tem um filme, não fez muito sucesso esse filme, mas é um filme que é baseado nessa história. Bom, a segunda obra que a gente vai abordar hoje, antes de encerrar, é a obra do Neil Gaiman. A obra do Neil Gaiman, que é "O oceano no fim do caminho". É uma das últimas obras que ele publicou. E o Neil Gaiman é um criador de mitos contemporâneos. As história dele se comunicam muito. Quem leu um ou dois livros já pega o estilo dele. Ele apresenta com muita dureza, de uma forma meio "pesadelosa", um mundo que confunde a realidade com os temores infantis. E todos nós carregamos os temores infantis. Ele se pauta no fato de que os nossos pesadelos infantis, eles são atemporais, eles não passam. A gente não supera os nossos medos infantis totalmente. Eles ficam lá. A gente pode até superar o nosso medo do escuro, mas existe um escuro. Existe um quarto escuro dentro de cada um de nós, não é? E ele vai falando, por conta disso, a partir dos traumas da infância. Não sei quem leu "Sandman", eu li na juventude. Ele fala desses seis irmãos, que são as divindades: o desejo, o desespero, o sonho, que em inglês é "dream". Então, são seis irmãos cujos nomes começam com a letra 'd'. Então: dream, despair, desire, death, delirium, e destiny. Ou seja: destino, delírio, morte, sonho, desespero e desejo. Tem um outro livro dele, muito, muito, bom chamado "Neverwhere". Que eu acho que foi traduzido por "lugar algum", que se baseia numa história de que, embaixo de Londres, existe uma outra Londres. Existe uma cidade subterrânea, embaixo da cidade que emerge, ou seja, existe uma noite embaixo. Uma noite enterrada embaixo do dia. Sempre, né? E esses mundos de alguma forma dialogam, e você pode, por uma fissura espaço tempo, passar de uma realidade pra outra. "O oceano no fim do caminho" se baseia nessa ideia. Todos nós, quando somos crianças, olhamos muitas vezes para um lago, para uma casa, e a gente enxerga sempre a coisa maior do que a gente enxerga quando a gente é adulto. Ou seja, muitas vezes um lago parece um oceano. E a premissa do Neil Gaiman é, a brincadeira dele é: "E se eu levar essa impressão a sério, e criar um mundo onde um lago é mesmo o oceano. E se eu der razão para os medos da criança durante a noite e transformar os sonhos num mundo à parte. Ou seja, você tem essa convivência do universo, e quando você vai ler o final do livro, nos agradecimentos, você vai ver como o Neil Gaiman se valeu das lembranças dele de infância para escrever esse livro. Ele resgata, ele vai atrás de uma prima para perguntar sobre uma certa ocorrência. Ele vai atrás da casa da infância dele. Ele vai atrás dessa...Lembra que eu falei da banalidade? Então, ele vai atrás dessa sensorialidade do banal da vida infantil, para nos aproximar desse universo, e colocar esse universo dentro do universo fantástico dele. Porque ele tem essa cosmogonia autoral muito, muito forte. Ou seja, ele vai explorar a casa de infância, a história de um 'airbnb' daquele tempo. A família estava meio sem dinheiro, alugava um quarto, e aí tem um sujeito que morre numa estrada ali perto. Aí ele fica conhecendo uma família na vizinhança. Tem uma menina que é mais ou menos da idade dele. Aí ele vai descobrir depois que não. Enfim, tem toda essa coisa do universo, e aí eles viajam e abre uma fissura e eles partem para um outro mundo, e eles trazem desse outro mundo algo que eles não deveriam trazer. E, aí, a babá é uma figura monstruosa. E todo mundo desconhece disso, só a criança sabe que a babá é uma figura monstruosa. Ou seja, qual que é a estrutura desse romance? A estrutura é pautada nas lembranças de infância, a partir de...trazidas de uma cosmogonia pessoal, onde os deuses de alguma forma convivem com o universo mundano. Ou seja, existe um outro mundo por trás desse. E esse personagem revela, a partir de um fato mais ou menos acidental. Essa é a estrutura do Neil Gaiman. Pessoal, a gente vai chegando ao fim de mais uma aula, e eu queria adiantar que semana que vem, para quem chegou na metade do nosso encontro, na aula quatro, penúltima aula do nosso curso "Os caminhos da ficção", a gente vai falar sobre os segredos da autopublicação, com a Talita Taliberti. É uma entrevista imperdível, porque ela é responsável pelo KDP, Kindle Direct Publishing, da maior livraria online do mundo, a Amazon. A gente vai falar como dar início a uma plataforma de autor e como abrir caminho para a autopublicação. Eu gostaria de dizer que, das primeiras três aulas aulas a gente teve um PDF, ou seja, se você já baixou esse PDF, é aquele mesmo. A gente vai ter na quarta aula um outro material que a gente vai oferecer por e-mail. Então, se inscrevam no escritacriativa.net.br para receber o material que eu vou enviar lá para o meio da semana. A gente está ainda reunindo esse material. É um material sobre a publicação. Eu vou parar de compartilhar minha tela aqui agora e vocês me vão ver! Pessoal, eu gostaria de agradecer. Andreza, manda um e-mail para o inbox nosso, da fanpage, tá bom? Eliana, obrigado! Everaldo, muito, muito obrigado! Mesma coisa, Everaldo, manda o teu e-mail pro inbox, gente. Não posta aqui no comentário, não. Manda inbox, aqui na fanpage do Escrita Criativa. E Aparecida, fico muito feliz. Deem um 'like', pessoal! Compartilhem esses vídeos! E a gente se vê na semana que vem. Não deixem de aparecer, porque a gente vai falar sobre publicação, sobre como começar a receber pelos nossos livros. Como construir um público a partir do teu estilo, da tua forma de escrever, da tua forma de conceber a literatura. Um grande abraço pra vocês e até a semana que vem! Tchau!.

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Atibaia:

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Irene Spears, Kings County. Araraquara: Bard College; 2015.

Blanche Roger, W 50th Street zip 10019. Santa Cruz do Capibaribe: Riverdale; 2012.

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