Projeto De Pesquisa Para Mestrado Como Fazer

Tribeca - CONDENADOS À FELICIDADE O experimento comunista na Romênia Filme escrito e comentado por VLADIMIR TISMANEANU Filme produzido e realizado por DINU TANASE Colaboraram Centenas de milhares de vítimas milhões de destinos destruídos gerações inteiras tolhidas do contato com o mundo civilizado uma economia destruída, uma moralidade em frangalhos. Essa parece ser- não me equivoco, na verdade é- a herança histórica do comunismo na Romênia. Pode ser que nenhum país europeu, e eu levaria a comparação um pouco além, pode ser que em nenhum outro país a continuidade do sistema comunista tenha sido tão clara em sua atrocidade. Pode ser que a única comparação que possamos fazer seja com a Albânia, ou quem sabe, com a Coreia do Norte. No caso da Romênia, durante 44 anos, perseguiu-se com uma perseverança digna de causas muito, mas muito melhores, a destruição do ser humano a aniquilação da fibra moral do indivíduo, a destruição daquela dimensão que nos faz levantar acima dos animais. O experimento de Pitesti, tão bem conhecido hoje e que apenas agora espera ser estudado em profundidade -através de filmes, de livros, de depoimentos provenientes de lá- e além disso, aquele milhão de homens prisioneiros daquilo que se chamou arquipélago M.A.I; as 300 mil vítimas, os desaparecidos, os mortos nas prisões do terrorismo comunista romeno; todos esses aguardam o monumento que precisa ser-lhes erguido. É necessário recorrer à história, porque a história foi vitimizada, pois o comunismo odiou- e odeia -a história e memórias autênticas e, de fato, a sua própria história O comunismo é, em última análise, uma tentativa perpétua de reescrever a história, de aniquilar completamente todos aqueles valores, todos aqueles dados que a humanidade demonstrou serem as bases da moralidade O comunismo é, de fato, o resultado de ações levadas a cabo por seitas fanáticas, com sonhos utópicos, por assim dizer com sonhos messiânicos, com sonhos de fazer os homens serem felizes, de condená-los à felicidade, por assim dizer mesmo contra aquilo que esses homens desejam para si mesmos. Esse experimento de condenar os homens a uma felicidade decretada por diversos Estados Maiores da Revolução ou por diversos autoproclamados líderes ou condutores nacionais é uma história que apenas começa a ser escrita, e a nossa tentativa, aqui, é, por assim dizer, uma estreia nessa direção “Stalin! Stalin! Stalin!” Desde o começo, os comunistas romenos aliaram-se frebilmente à causa russa soviética A fidelidade incondicional frente a União Soviética, afirmava Stalin, constituía a pedra fundamental do internacionalismo proletário. Qualquer hesitação em seguir as ordens do Kremlin equivalia a uma traição. “Fala o companheiro Vasile Luca” “O único caminho que leva à liberdade, à independência, à felicidade é o caminho da grande revolução de outubro é o caminho aberto, criado, pelos grandes gênios da humanidade Lênin-Stálin”. Os partidos comunistas, formados em todo o mundo naquele ano eram todos organizados segundo o modelo do partido bolchevique Eram organizações ultra centralizadas,baseadas na disciplina militar extremamente hierárquicas e autoritárias. As heresias eram punidas sem piedade e no recrutamento de seus membros o partido se baseava na credulidade e no ressentimento; prometia a obtenção da igualdade completa em um mundo livre da necessidade e do medo. Aos frustrados e marginalizados, às minorias e aos infelizes, prometia uma ardorosa emancipação. Pretendia-se a solução a todos os problemas da sociedade, não por acaso os comunistas conseguiram trazer para o seu lado não apenas os trabalhadores, mas também intelectuais notáveis dispostos a abandonar suas faculdades críticas em favor de uma identificação febril com as causas de um proletariado mitológico. Com todos seus limites, a democracia romena era suficientemente tolerante para permitir a existência de uma organização que proclamava em altos brados sua hostilidade visceral contra esse sistema. O que não podia, porém, ser tolerada era a ação subversiva e antinacional de um punhado de indivíduos colocados a serviço de um poder revanchista como a Rússia Soviética. Em 1924, o PCR (Partido Comunista Romeno) era declarado ilegal, como resultado de sua ação instigadora em diversas revoltas sociais da Bassarábia (Moldávia), ligadas às reivindicações territoriais do Kremlin. Detestando, denunciando e caluniando o Estado Unitário Nacional, criado depois da Primeira Guerra Mundial através da recuperação dos territórios históricos romenos: a Transilvânia, Bassarábia e Bucovina do norte. Para os comunistas, a Romênia era um Estado imperialista multinacional, constituído através de pilhagem e invasão. Porque Moscou declarava que a Bassarábia era uma província russa, os comunistas romenos sustentaram sem dor na consciência esse ponto de vista antipatriótico. Uma exceção a esse princípio foi o primeiro Secretário Geral do PCR, Gheorghe Cristescu, conhecido como “aquele que confecciona cobertas” Ele pagaria por esse desvio com a expulsão do partido e a acusação penal depois de 23 de agosto de 1944 e inclusive com sua eliminação da história. Os congressos do PCR daqueles anos não fizeram mais do que levar a uma interpretação ainda mais rígida dos problemas políticos e sociais do país. Entre outras, aquela inerente incapacidade de entender os dramas autênticos do povo romeno era ligado à estrutura étnica do partido. O PCR virou, dessa maneira, um partido dominado por militantes de origem alogênica dentre os quais muitos mal falavam o romeno. Longe de reclamar desse fato o Comintern (Comunista Internacional) parecia encorajá-lo. Afinal um partido frágil e anêmico como esse podia ser muito mais facilmente controlado e manipulado. Por outro lado, não podemos cair no extremo oposto, considerando o comunismo como obra exclusiva dos estrangeiros. Desde o começo, ao lado de Ana Pauker e Alexandru Dobrogeanu Gherea, na linha de frente se encontraram militantes 100% romenos. (Hino Internacional Comunista ao fundo). A primeira geração de líderes era ainda muito marcada pelos princípios social-democratas muito “europeia” em um determinado sentido para ser conveniente ao controle total pretendido pelo Kremlin eram necessários escravos humildes, instrumentos perfeitamente obedientes prontos para executarem qualquer ordem sem a mínima hesitação. Justamente para conseguir a perfeita maleabilidade do PCR O Comintern decidiu pela eliminação da velha guarda, daqueles patriarcas do partido como Alexandru Dobrogeanu Gherea, Timotei Marin, Imre Aladar e Elena Filipovic, substituindo-os com membros pura e simplesmente lançados de paraquedas na Romênia: Vitali Kolostenko, conhecido como Barbu, ativista importado da Ucrânia, e Alexander Stephanski Um comunista polonês que conduziria o PCR durante as famosas greves de Grivita de fevereiro de 1933. Nesse ínterim, na base, se formavam militantes da categoria mais dura expostos aos mitos cominternistas. Entre esses, um que desempenharia um papel essencial no destino do comunismo romeno foi Gheorghe Gheorghiu-Dej. Nascido em 1901, Gheorghiu-Dej foi um dos organizadores das greves de Grivita de 1933. Digo que foi “um dos organizadores” porque ao lado dele, e mesmo mais importantes, estiveram outros militantes como Dumitru Petrescu e Constantin Doncea. Os processos dos líderes dos ferroviários e dos petroleiros foi um dos pontos culminantes da propaganda dos comunistas na ilegalidade Em outro processo esteve outra figura importante do partido, Ana Pauker. A “tigresa” do comunismo romeno, como foi denominada, essa mulher representou a face mais agressiva do partido ela tornou-se o símbolo vivo da sujeição cega à União Soviética e Stálin. “7 de novembro de 1917 significou a abertura de uma nova era na história 7 de novembro de 1917 significou o início das revoluções proletárias vitoriosas 7 de novembro de 1917 significou, para os trabalhadores de todo o mundo, a crença firme que o proletariado pode e começou a se libertar, a instaurar a sua ditadura esmagando os exploradores, que os povos podem e começaram a se libertar do jugo explorador.” “O nosso front é forte hoje. O imperialismo ferido em 7 de novembro de 1917 Está hoje ainda muito mais fraco, muito mais ferido.” Os comunistas romenos pensavam e sentiam no espírito russo Os seus cânticos, como “Em frente, companheiros” eram hinos do bolchevismo russo. Eles aprendiam todos russo, para que pudessem ler no original as obras primas do leninismo e stalinismo. O famoso “Observo Doftana por entre grades de ferro” se cantava sobre uma melodia popular russa. Não o rio Oltu, mas sim o Volga era o rio com o qual sonhavam. Se consideravam mártires porque o martírio fazia parte da tradição do terrorismo niilista russo. “Até no cárcere se lutava; preso, o companheiro Gheorghe Gheorghiu-Dej escrevia: Nesses momentos de dura provação, gostaria de assegurá-los, companheiros, que levarei minha tarefa a cabo, como soldado devotado e disciplinado do partido." Apesar das lendas construídas cuidadosamente pela propaganda oficial do PCR com relação às “gloriosas lutas durante a fase de ilegalidade” não se pode dizer que o partido conseguiu sair de nenhuma maneira do seu auto-imposto gheto político. Ainda no quarto decênio observamos a formação de centros de poder no interior do partido, que explicam as disputas ferozes no PCR após a tomada do poder. Por um lado, existia um centro nas prisões, nas quais se achavam militantes como Gheorghiu-Dej e seus acólitos, como Gheorghe Apostol, Teohari Georgescu, Iosif Chisinevski, Nicolae Ceausescu, Alexandru Draghici, e outros que serão figuras proeminentes na condução do país após 1947. Ademais, existia um comitê central que atuava na clandestinidade conduzido por Stefan Foris, um intelectual de origem húngara. Juntamente com ele, figuravam na condução desse centro clandestino personagens como Lucretiu Patrascanu, advogado e servidor político assim como outros militantes menos conhecidos. Enfim, em Moscou, funcionava, no Comintern Uma seção romena conduzida, até 1940, de um militante de origem búlgara, Boris Stefanov. No outono de 1940, depois da anexação da Bassarábia pela URSS após o pacto Molotov-Ribbentrop, aconteceu uma troca de prisioneiros entre a Romênia e a URSS, o que fez com que Ana Pauker chegasse a Moscou tornando-se a líder do centro no exterior. Em torno dela se juntou um núcleo de militantes que, por sua vez, terão um papel determinante na satelização da Romênia depois de 23 de agosto de 1944. Vasile Luca, militante sindicalista de origem húngara, que foi para a URSS e adotou a cidadania soviética Petru Borila, militante de origem búlgara, previamente oficial político nas brigadas internacionais da Espanha nos tempos da Guerra Civil Constantin Doncea e Dumitru Petrescu, ex-líderes das greves de Grivita, que conseguiram escapar da prisão e fugiram para a URSS; Walter Roman, ex-oficial nas brigadas internacionais que se tornaria o chefe dos postos de rádio “Romênia Livre” do Comintern Dumitru Coliu, um outro búlgaro, que nos anos da ditadura de Dej teve um papel sinistro na assim chamada “Comissão de Controle do Partido”, e não menos importante, Leonte Rautu, um militante hebreu originário da Bassarábia chefe da seção romena na “Rádio Moscou”, que será o ditador inconteste da cultura romena entre 1948 e 1965. “Em frente à multidão, desfilam as unidades do glorioso Exército Vermelho." Uma vez tendo as tropas soviéticas adentrado o território romeno, os comunistas romenos jogarão um papel importantíssimo como representantes legítimos de Stálin. “Em frente de Sua Majestade, o Rei, e de altos dignitários Passam, agora, unidades do exército romeno” Diferentemente dos partidos comunistas em outros países da Europa Oriental, os comunistas romenos não podiam evocar méritos na organização de gloriosas ações de resistência anti-nazista. Os militantes estiveram presos, porém nenhum gozava de crédito e influência nacional. Em sua maioria, a população romena era anti-comunista. “Uma imensa multidão concentrada em frente ao palácio real se manifestou em apoio a Sua Majestade, o Rei Mihai I, e à sua Majestade, a Rainha-mãe Elena”. “O novo governo foi constituído. Depois de longos anos de provação, a Romênia respira de novo na atmosfera de liberdade da democracia”. “Sob a condução do senhor general Sanatescu e dos senhores Iuliu Maniu, Dinu Bratianu, Lucretiu Patrascanu e Titel Petrescu, o governo romeno dá ao país uma nova face, assegurando-lhe um futuro de paz e prosperidade. Iguais perante a lei, os romenos poderão perseguir seus sonhos e aspirações livremente, ao lado das Nações Unidas.” O único membro comunista que tinha conseguido construir uma imagem menos terrível era Lucretiu Patrascanu. Um intelectual autêntico, ele não era bem visto pela orgulhosa Ana Pauker e pelo onisciente Gheorghiu-Dej. A sorte de Patrascanu haveria de ser decidida em seu papel incisivo nos conflitos inter-étnicos do Ardeal (Transilvânia). Gheorghiu-Dej, um conhecedor da arte da estigmatização e das táticas políticas sórdidas acusava Parascanu em 1946 de nacionalismo e chauvinismo romeno. Patrascanu perderia terreno, sendo exluido do birô político e, depois de 1948, sendo mantido em prisão domiciliar, depois preso, torturado, condenado à morte e executado após um julgamento encenado em abril de 1954. A condução fora completamente monopolizada por aquilo que podemos chamar “quarteto hegemônico” formado por Dej, Ana Pauker, Vasile Luca e Teo Georgescu Pauker e Luca voltaram ao país a partir da URSS juntamente com o Exército Vermelho, e tornaram-se, imediatamente, membros do birô político e secretariado Eles se dedicaram à sovietização completa e radical da Romênia. Um apoio essencial para tal veio da parte de Petru Groza, o latifundiário respeitável do Ardeal, que desempenhou com voluptuosidade o papel de “companheiro de caminhada” na sua qualidade de premiê imposto por Moscou em 6 de março de 1945 “Gostaria que a nossa voz seja levada pelos ventos para todos os cantos do nosso país para que conte que viemos da casa do nosso grande vizinho, a URSS e falo para vocês: mantenham a firme determinação! Não se acomodem na luta política! Não se acomodem em suas fábricas, nos seus escritórios, não deixem que se acomodem nem os camponeses nos campos até que não vejamos realizado o país que perseguiremos sempre, a Romênia livre, independente e democrática!” A presença do Exército Vermelho de ocupação, o domínio soviético sobre os meios de informação, as ingerências incontidas sobre os assuntos internos do país, inclusive a imposição de Andrey Vyshinsky, o adjunto do Ministro do Exterior soviético sobre o palácio para a aceitação do governo de Groza, todos esses fatos contribuíram para o enfraquecimento das forças democráticas. O Ministério do Interior foi dado a Teohari Georgescu, o da justiça a Lucretiu Patrascanu e o da Comunicação, a Gheorghiu-Dej. Para assegurar o mínimo de popularidade, o governo de Groza fará uma série de decretos e efetuará uma reforma agrária cínica, cujos efeitos serão seguramente temporários. “A Praça da Vitória virou uma grande calçada, na frente das tribunas foram montados imensos cartazes com o retrato do Rei Mihai I e as figuras dos grandes líderes Marx-Engels-Lenin-Stálin” “Aparece o primeiro carro alegórico. Ele representa a luta vitoriosa de libertação do Exército Vermelho” “O segundo carro representa a libertação do Ardeal, querida pelo povo, efetuada pelo governo de Petru Groza.” “Viva o Ardeal livre e democrático, reunido à pátria romena.” Em outubro de 1945 tem lugar a conferência nacional do PCR, e com essa ocasião Gheorghiu-Dej é consagrado líder supremo do partido. Na mesma ocasião, um dos mais servis locotenentes de Dej, Nicolae Ceausescu, torna-se membro do Comitê Central. O oportunismo e conformismo dos dispostos a saltar no barco dos vencedores são explorados com um cinismo sem limites dos artífices do regime comunista Organizam-se reuniões imensas, na ocasião das quais os líderes comunistas, e em primeiro lugar Gheorghiu-Dej e Ana Pauker, condenam ações de conspiração dos reacionários em primero lugar, do Partido Nacional Camponês, do Partido Nacional Liberal – Bratianu e Social-Democrata (Titel Petrescu) são denunciados constantemente pela pretensa recusa de colaborar com as causas comunistas. O lugar-comum, reflexo da fraude semântica, do abuso de confiança e da fanatização do público é o elemento dominante do discurso comunista. Os líderes do partido não tentam mais convencer a ninguém, eles detêm a verdade absoluta e procuram impô-la por quaisquer meios a uma população desorientada e aterrorizada As eleições fraudadas de novembro de 1946 são o exemplo perfeito dessa estratégia. “Temos eleições. Gritam eles no exterior: venham para o nosso país! Venham que nos matam as pessoas na eleição! Venham, porque eles não votam em nós! Venham ver que gostariam de votar em nós, porém não os deixam Groza e Teohari, e sei lá mais quem. Dessa maneira, os senhores traem a independência do país, traem a independência do povo. Eles querem nos fazer, nos tratar, a nós, a grande multidão, como crianças, como selvagens como desonestos, que devem ser colocados sob intervenção, sob o controle, que nos olhem os dedos, que nos olhem nos olhos, para que vejam o que pensamos, para que nos digam que não pensamos bem como pensamos, para que nos ensinem como devemos viver e como devemos tocar a nossa vida. Pois em todo o país os candidatos do bloco vão ganhar com maioria absoluta. Nós estamos convencidos que o parlamento do país vai ser composto em sua imensa maioria de representantes do bloco dos partidos democráticos.” A falta de escrúpulos e a mentira, combinadas com a utilização das técnicas terroristas mais revoltantes, inclusive agressão física, assegurou à aliança eleitoral dominada pelos comunistas uma pseudo-vitória esmagadora. “Na manhã do dia 12 de novembro de 1946, os homens e mulheres de absolutamente todas as classes sociais são chamados às urnas. “As amplas massas conduzidas pelo partido estavam determinadas a obliterar definitivamente as forças reacionárias.” “Com a passagem de cada hora daquele dia, era cada vez mais clara a vitória das forças democráticas.” “E eis um dos momentos da abertura das urnas.” “Nas comissões, grandes emoções liberais e envenenadas esperas manistas. “Desculpem-nos, é a vez do Sol.” Pouco importa que o mundo civilizado proteste contra esse imenso roubo eleitoral Dej, Pauker, Luca, Vodnaras e sua marionete Petru Groza podiam reportar a Stálin que na Romênia as coisas iam de acordo com a vontade de Moscou. O país seguia a passos largos para a transformação em uma “democracia popular” ou seja, em uma imensa caserna em que qualquer forma de oposição seria obliterada utilizando métodos os mais bárbaros, e tudo isso se produzia em nome da “classe trabalhadora”, em nome do “povo romeno”. Processados e intimados, os partidos históricos romenos tentaram organizar formas de resistência, inclusive destacamentos de apoiadores. Suas chances eram, porém, mínimas, nas condições estabelecidas por um sistema totalitário baseado na denúncia e chantagem, e sem qualquer apoio militar ou diplomático por parte do ocidente. Entrara-se na era da Guerra Fria, e a Romênia estava situada do lado de lá da cortina de Ferro, naquela zona do abuso totalitário na qual Stálin e seus fantoches podiam levar a cabo seus planos sinistros. Um totalitarismo escuro e forçado, uma completa restrição do pensamento, uma paralização e até destruição da sociedade civil. A ideia de cidadão devia ser sufocada, e para isso se construía um sistema propagandístico Para a supressão da memória coletiva, para reescrever a história nacional e para convencer os romenos que viviam no melhor dos mundos possível. “Para ser considerado um povo trabalhador, um povo modesto, como um povo que colocará seu ombro para a construção de um futuro de paz de democracia e de liberdade no mundo..." "Fiz um apelo a todos para que salvássemos o povo e poucos responderam. Se eu tivesse me retirado, todo o país teria caído nas mãos dos legionários, com todas as consequências decorrentes disso. “Senhor presidente, eu não fui um homem da política, não segui nenhum sistema político, Fui o homem do país, que sempre considerei acima da monarquia e acima dos partidos políticos.” “O tribunal do povo, devido aos motivos que serão expostos, em nome da lei, por unanimidade decide: condena o acusado Ion Antonescu, de 64 anos, ex-condutor do Estado, por crime de desastre do país e crimes de guerra preditos pelo artigo 1, alíneas a e b e artigo 2 alíneas a,b,c,d,e,f,g,h,i,m,n e o da lei 12 e sancionada pelo artigo d alínea 1,2,3,4 e 5 na mesma lei, à pena capital.” A longo prazo, era claro, o futuro da Romênia não podia ser diferente do presente da Rússia soviética. Nesse ínterim, sob condução dos agentes soviéticos Emil Bodnaras e Pantiu Shabonarenko, que se batizou como Gheorghe Pintilii, se formou um serviço secreto, que conseguiu semear por todos os lados pânico e medo. A imprensa comunista ou colaboracionista fazia uma campanha infame contra todos aqueles que ousavam contestar a legitimidade das ações dos agentes stalinistas da Romênia. Em 1946, o ex Secretário Geral Stefan Foris foi assassinado como consequência de um decisão assinada pelo quarteto condutor do partido. No final de outubro de 1947, Iuliu Maniu, o líder histórico do Partido Nacional dos Camponeses, um homem com a idade de 74 anos era trazido frente a um tribunal juntamente com outras personalidades da oposição democrática. O processo de Iuliu Maniu foi uma horrenda encenação destinada a gerar indignação pública contra os pressupostos malfeitos do “inimigo da classe trabalhadora”. Este processo era a primeira página da nova história comunista, na qual todo o passado do país, e, em primeiro lugar, a ideia de democracia parlamentar, deveriam ser rebaixadas a algo a qual NUNCA MAIS os homens teriam direito a sonhar sem serem penalizados. Em lugar de obter confissões auto incriminadoras da parte de Iuliu Maniu, o tribunal se viu confrontado com um exemplo de dignidade e honra patriótica. Perguntado pelo presidente da Corte, Cornel Alexandru Petrescu, aquele que julgara Ana Pauker em Craiova em 1936, por que não havia tentado sair do país assim como o fizeram outros militantes do seu partido, Iuliu Maniu deu uma resposta histórica, mostrando que o seu papel era permanecer na Romênia para lutar através de quaisquer meios para a manutenção de eleições livres, para a garantia das liberdades políticas autênticas e para a restauração dos direitos humanos elementares. “Se precisou desde o princípio, e a coisa está registrada na minuta de 18 de setembro que, para nós, não era possível virar agentes de um poder estrangeiro” “...sobre o fato triste, que o governo de Groza não satisfaz as convenções internacionais”. “não respeita...como?” Incapazes de aceitar a permanência de Maniu em liberdade, os comunistas o condenaram à prisão perpétua. Iului Maniu iria morrer ulteriormente na penitenciária de Sighet depois de ser submetido às torturas do regime celular e a tantas humilhações às quais nenhum prisioneiro comunista fora exposto alguma vez no difamado regime “burgês oligárquico”. Dinu Catianu, líder do Partido Liberal, foi preso e iria morrer no mesmo inferno chamado Sighet. A destruição da elite política da democracia romena iria ser completada com minúcia diabólica pelos discípulos locais de Stálin. A instituição que haveria de ser responsável por tais atrocidades sem número era a Securitate (Polícia Secreta), construída à imagem do NKVD stalinista. Sem essa instituição, todas as propagandas entusiásticas do leninismo-stalinismo não teriam sido bem sucedidas, não houvesse existido o sistema de dossiês e interrogatórios noturnos de delação institucionalizada. A partir do primeiro momento, esse pilar do totalitarismo contou com as sugestões dos conselheiros soviéticos, que cooperaram com seus colegas romenos visando à definir as formas mais eficientes de aterrorizar a população. Depois de 1948, a Romênia tornar-se-ia um território no qual surgiria um arquipélago gulag autóctone, formado da rede de prisões, penitenciárias e outros espaços de tortura nos quais os sádicos da Securitate poderão satisfazer os seus instintos mais primitivos. Centenas de milhares de romenos, a fina flor da intelligentsia nacional, os mais puros estudantes, os ativistas dos partidos de oposição, militantes das minorias nacionais que se recusaram a aceitar a dominação comunista, inclusive representantes do movimento sionista da Romênia camponeses que se opunham à coletivização, quase todo o clero da Igreja greco-católica, assim como numerosos padres ortodoxos conheceriam os efeitos do sistema pedagógico da Securitate. O terror deveria ser universal e total. Ninguém deveria se sentir a salvo do braço de ferro da revolução. Na Romênia, da mesma forma que na Hungria, Polônia, e nos outros estados sob colonização moscovita, a Securitate assegurava a ordem totalitária. Para utilizar o título de um romance favorito do realismo socialista: “Assim endureceu-se o aço”. Gheoghiu-Dej cooperava com os demais membros do quarteto para acelerar o ritmo da transformação da Romênia em uma democracia popular modelo. Uma piada da época diz tudo sobre a natureza desse tipo de regime: A diferença da democracia e da democracia popular é a mesma diferença que aquela entre uma camisa e uma camisa-de-força. Em 30 de dezembro de 1947, Dej e Groza convocam o rei Mihai I e impõem-lhe de maneira arbitrária sua abdicação do trono da Romênia Através de força e ameaça do uso da força, os comunistas obrigaram que o rei, símbolo da continuidade constitucional do Estado romeno, descendente de uma família cujos momentos de glória coincidiram com os momentos de grandeza da consolidação da Romênia moderna, deixasse o país. “À Grande Reunião Nacional chegam, de todos os quadrantes do país, os escolhidos do povo: trabalhadores, camponeses, intelectuais.” A condução suprema do Estado era figurativamente assegurada pela Grande Reunião Nacional, um organismo fictício à frente do qual estava nomeado o professor C.I. Parhon, do qual fazia parte, entre outros, Mihail Sadoveanu, o prosista de envergadura que aceitara, ainda em 1945, declarar que “para os romenos, a luz vem do oriente”. “O companheiro Gheorghe Apostol anuncia: a república possui uma nova Constituição”. Em lugar da monarquia, era proclamada uma “República” popular, cujo hino dizia tudo sobre as mitologias que viriam a ser moeda corrente nos anos ulteriores. Um pouco mais tarde, o segundo hino de Estado da RPR consagraria o estado de vassalagem da Romênia em relação à URSS. “Sejam irmãos para sempre do povo soviético libertador o leninismo é o farol, força e impulso para nós Nós seguimos com crença o partido invencível construímos o socialismo na nossa terra.” A abolição forçada da monarquia e a proclamação de uma república fictícia faziam parte da lógica da linha política do endurecimento no stalinismo tardio, relacionava-se ao convencimento de Stalin de que uma Guerra Mundial tornara-se inevitável. Os Estados ocupados da Europa Oriental e Central deveriam ser transformados em pontos de resistência o menos vulneráveis possível a ataques internos ou externos. “O companheiro Gheorghiu-Dej está à frente da delegação governamental que assina em fevereiro de 1948 o pacto histórico de ajuda e assistência mútua.” O primeiro assinado por Moscou com um Estado que fora inimigo da URSS durante a guerra. Os comunistas romenos faziam de tudo para se distinguir pelo seu servilismo inigualável. “Chegou à estação de Focsani um destacamento de prisioneiros romenos provindos da URSS.” “Na chegada à estação os repatriados foram recebidos por um grande número de cidadãos que se manifestaram com entusiasmo em relação à amizade romeno-soviética.” “Os ex prisioneiros estão saudáveis, bem-dispostos, bem equipados, e, apesar dos muitos dias na estrada, estão felizes e contam com entusiasmo o que viram e viveram na URSS “O condutor soviético do destacamento deseja aos ex prisioneiros uma vida nova e vontade para trabalhar em sua pátria livre.” Também em fevereiro de 1948, têm lugar o congresso de unificação do partido comunista com a asa colaboracionista do partido social-democrata da Romênia, conduzido por Lothar Radaceanu e Stefan Voitec. Assim, forma-se o Partido Romeno dos Trabalhadores dominado totalmente pelos comunistas, no qual os social-democratas serão simplesmente figurantes, quando não serão pura e simplesmente alijados em alguma das inúmeras campanhas para a “limpeza” das linhas do partido. O relatório político no congresso foi apresentado por Gheorghe Gheorghiu-Dej, que deixou claro que para a Romênia não havia alternativa ao caminho de tipo soviético. “Hoje, na sala do trono, entraram pela primeira vez os trabalhadores e camponeses.” “Em uma sala estão expostos os presentes dos trabalhadores para os condutores do partido e delegações estrangeiras. Todas provocam admiração pelo amor com que foram feitos e por suas qualidades artísticas.” “Na grande sala teve lugar um rico e animado programa artístico.” “Um dos primeiros atos históricos marcando o caminho para o socialismo da RPR foi a nacionalização dos principais meios de produção.” “Os mais capazes filhos da classe trabalhadora tomaram a direção das companias nas quais foram espoliados.” Assim, é aberto o caminho para a imitação do modelo soviético da industrialização forçada. A Plenária CC do Partido Romeno dos Trabalhadores de 1949 anuncia o plano transformador socialista da agricultura. De fato, o projeto destrói a agricultura privada e passa para o modelo stalinista dos colcozes, chamados em romeno “centros de agricultura coletiva”. O mimetismo mais desolador é a característica da atitude dos comunistas romenos frente a Moscou. Seguindo o exemplo soviético, o UTM toma conta de toda a esfera da vida dos jovens, forma-se a organização dos pioneiros, e todo o sistema educacional é submetido aos princípios nefastos da pedagogia stalinista. É o período no qual nasce a mística das casas da juventude de Bumbesti de fato cópia dos centros de trabalho forçado que empurrou a URSS nos tempos de Stálin A propaganda é permanente e onipresente. Fala-se ao infinito das maravilhas realizadas pelo regime de democracia popular. “Assim como a planta saudável não morre, e o tronco reto alimenta novos galhos Assim cresce uma mais forte, mais vitoriosa Mais decidida, sem se poupar, maior, mais vingativa De cidades ao campo, de fronteira em fronteira O movimento invencível de toda a classe trabalhadora." A imprensa e o rádio não fazem mais do que glorificar as grandiosas realizações do povo irmão soviético e os estereótipos mecânicos como o do trabalhador Stacanovista e do coletivismo pioneiro são exaltados em fitas de celuloide sem fim. “A caravana do Ministério das Artes foi ao campo para levar cultura às massas de camponeses. Um projetor foi instalado. Os trabalhadores receberam com alegria tal acontecimento.” “Depois da instalação do aparelho, os camponeses observaram com muita atenção as imagens do filme, que lhes mostrou a vida feliz dos colcozes soviéticos.” “Aqui trabalha a costureira Maria Volcova, conhecida em todo o país como a iniciadora da transição socialista dos trabalhadores da indústria têxtil, no quadro do plano quinquenal.” “Ontem, Maria Volcova trabalhou em 12 aparelhos de costura. Hoje começou a trabalhar em 16.” “Os resultados obtidos por Maria Volcova inspiram os trabalhadores das indústrias têxteis.” “Milhões de metros de tecidos suplementar dados ao país como nobre exemplo dessa costureira”. “A experiência acumulada pela URSS no decorrer dos 32 anos da construção do socialismo constituem uma lição rica que facilita o caminho dos países com democracias de tipo popular ou seja, também o do nosso país.” Ao mesmo tempo, a repressão se intensificava. Centenas de milhares de camponeses são presos no começo dos anos 50 por se recusarem a se inscrever nas fazendas coletivas. Têm lugar processos infames contra todos aqueles suspeitos de contestar o novo regime. As seções de partido agem com fervor em cada escola, hospital, universidade, em cada setor da vida social. Os jornais da época não registram nada do sofrimento de uma coletividade humana martirizada. Eles falam, porém, da ajuda recebida do glorioso povo soviético, do companheiro Dej e da companheira Ana. Durante esse tempo, em Sighet e Aiud, em Gherla e Periprava, em Jilava e Pitesti se morre e se sofre. Os gemidos das vítimas não atravessam os muros úmidos e fungados das prisões do stalinismo romeno. Todos esses foram lugares nos quais se perseguiu, por todos os caminhos possíveis, a destruição da personalidade humana e, praticamente, como se sabe, de fato, em Pitesti, chegou-se à completa aniquilação da liberdade do indivíduo. Chegou-se a isso naquele experimento odioso que queria transformar a vítima em criminoso. A Poarta Alba é o último vestígio daquilo que os comunistas queriam que fosse o cinturão de prisões entre o canal ligando o rio Danúbio ao Mar Negro. Cinturão mamute, cemitério mamute. Construído pela primeira vez entre 1952-1954, depois abandonado, retomado como projeto por Nicolae Ceausescu. Dezenas de milhares de homens forçados a deixar seu sangue, seus ossos e memórias aqui. Esse foi o destino histórico dessa construção. “Partido, por nós, através de nós, você vence. E qualquer passo atrasado, ancestral, você vence. E em qualquer foice, qualquer martelo, colocas uma aura mágica... “A celebração de Alexandru Toma na União dos Escritores” Um igualitarismo populista e demagógico é imposto de maneira sistemática por todo o aparelho militante do partido Os valores nacionais são combatidas com cinismo em nome da luta contra o nacionalismo. “Não esqueçamos, companheiros, de que na nossa caminhada rumo a uma vida melhor encontram-se, ainda, estágios. Temos inimigos no país. Os antigos donos de terras e fabricantes, e especuladores. Temos ainda inimigos externos. Os imperialistas americanos, ingleses, e seus vassalos de Belgrado, que estendem suas garras até nós através de todos os tipos de espiões, sabotadores e terroristas. A ligação com o ocidente, e a latinidade da cultura romena são atacadas em nome da luta contra o cosmopolitismo. Até junho de 1952 na frente do Ministério do Interior está Teohari Georgescu. Seu lugar será tomado após o alijamento naquele ano do grupo Pauker e Luca pelo devotado servo de Gheorghiu-Dej, Alexandru Draghici. A luta entre a facção das prisões e a de Moscou haveria de culminar com a eliminação de Ana Pauker e seus acólitos na plenária CC do Partido Romeno dos Trabalhadores de junho de 1952. Muitos esperavam que, uma vez com o alijamento dos moscovitas em posições de poder dentro do Partido Romeno dos Trabalhadores iria se produzir uma melhora no terror. Isso não aconteceu. A competição se dava entre indivíduos similarmente duros, tão fanatizados e dispostos a seguirem ordens de Stálin. De fato, a espiral de repressão atinge novas alturas na segunda metade de 1952. Novos alijamentos acontecem, enquanto a Securitate estende, com ainda mais força, seus tentáculos em todas as direções. Gheorghiu-Dej reina, agora, sem rival. Ele representa, agora, a variante balcânica do Czar Vermelho do Kremlin. Em março de 1953, Dej, como os outros Stálin das democracias populares, viram órfãos, uma vez com a morte daquele que lhes conferia poder absoluto sobre tantos milhões de subalternos assustados. Dej e outros líderes do oriente participam no funeral de Stálin tentando descobrir as intenções dos novos líderes de Moscou..

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Camaçari:

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