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Fashion Institute of Technology, Chelsea, Manhattan - Um submarino de bandeira portuguesa. Um submarino fabricado na Alemanha. É nestes estaleiros, os estaleiros da ThyssenKrupp, na cidade de Kiel, no norte da Alemanha, que são montados. A Marinha Portuguesa é uma das clientes, tendo comprado dois submarinos à ThyssenKrupp. Um negócio muito contestado e desde o início acompanhado de polémicas retratadas nos meios de comunicação em Portugal. "O Estado Português tem de pagar o valor total dos submarinos 5 dias depois de receber o segundo submergível." "O submarino que custou 500 milhões de euros a Portugal já está avariado." O negócio carece de transparência, afirma a eurodeputada Ana Gomes: "Compravam-se submarinos como se se comprassem carros em quarta mão." Portugal, um país em crise. Queremos perseguir o rasto de um negócio polémico. O negócio mais volumoso na história da Marinha Portuguesa. Cerca de mil milhões de euros foram gastos em dois submarinos. Estamos a caminho do Alfeite, a base da Marinha Portuguesa. Para entrar nesta base é necessária uma autorização especial, nem sempre fácil de obter. É aqui que estão estacionadas as fragatas da Marinha Portuguesa e também os dois submarinos baptizados de Tridente e Arpão. Recebe-nos o comandante do Tridente que nos explica que o Arpão se encontra em exercícios. Ficamos ainda a saber que o orçamento da Marinha Portuguesa sofreu cortes substanciais. O dinheiro é pouco e por vezes nem sequer chega para o combustível. Será por isso que o Tridente se encontra na base do Alfeite? Sem combustível o sistema de refrigeração também não funciona. Será por isso que os marinheiros passam o dia a refrigar o submergível à mangueira? Visionamento de imagens de arquivo nos escritórios da Marinha. Os alemães entregaram os dois submarinos com algum atraso, diga-se, em 2010. Nessa altura a situação financeira do país é considerada difícil. As polémicas sucedem-se. Apenas cinco meses depois de ter chegado a Portugal detecta-se um defeito grave no primeiro submarino. "Tem um problema nas placas de revestimento que não aguentam a pressão das águas do Atlântico" "O submarino está assim parado na base do Alfeite." Problemas técnicos, atrasos na entrega. Devido a este e outros problemas o Governo Português ainda tenta renegociar o contrato, mas os avisos sucedem-se: Portugal pagaria amargamente uma negação do contrato, até com o fechamento de empresas de grandes empresas de capital alemão, alertam os observadores. "Aquela despesa caiu, digamos, não direi do céu mas do inferno. Quer dizer, foi uma despesa que caiu no orçamento. Quando falamos de mil milhões , estamos a falar de algo que representa quase 10% da massa financeira que se paga a toda a função pública portuguesa durante um ano. Estamos a falar desta ordem de grandeza, não em termos de valores rigorosos, mas é desta ordem de grandeza. É efectivamente muito dinheiro. E recordo que foi logo a seguir, em Maio de 2011, que o Estado Português teve que pedir assistência financeira ao Fundo Monetário Internacional, à União Europeia, enfim, à banca, à troika, se quiser." Paulo Morais, vice-presidente da Associação Cívica Transparência e Integridade. O encontro com o professor de Estatística tem lugar no Porto. É ele um dos portugueses que se debruçaram sobre o negócio dos submarinos, um negócio que segundo alguns observadores não tem qualquer cabimento nos dias que correm e tendo em conta as necessidades do país real. "Ainda hoje não se percebe, de facto, qual é a utilidade dos submarinos na perspectiva geo-estratégica de Portugal. Se atentarmos que ainda hoje se houver um naufrágio ao largo dos Açores, do arquipélago dos Açores, muitas vezes a Marinha Portuguesa tem que pedir apoio à Marinha Inglesa, é estranho que não tenha investido noutro tipo de equipamentos." Como é possível um país membro da União Europeia e da NATO comprometer-se com a compra de equipamento que não necessita e que pelos visto excede a sua capacidade financeira? Que factores contribuíram para que esse negócio tivesse sido feito? As nossas pesquisas conduzem-nos a Bruxelas. Temos encontro marcado com uma eurodeputada que desde o início duvidou da transparência dos negócios dos submarinos. Ana Gomes. Os seus primeiros passos, no entanto, não foram fáceis. "Quando eu consegui, ao fim de muito porfiar, obter o contrato de aquisição dos submarinos. Porque durante muitos anos os diversos governantes recusaram-se a fornecer esses elementos: não eram públicos. Quando eu li o contrato da aquisição dos submarinos eu fiquei de cabelos em pé. Percebi que os interesses do Estado Português estavam no mínimo a ser grosseiramente negligenciados." O contrato da aquisição do dia 21 de Abril de 2004. O Ministro da Defesa, Paulo Portas, assina em representação do Estado Português. O Primeiro-Ministro do Governo de Portugal na altura é José Manuel Durão Barroso. Mais tarde Durão Barroso abandonaria Portugal para se tornar Presidente da Comissão Europeia. O contrato da aquisição. Um documento que até à data não está disponível ao público. O Estado Português é representado pelo ministro Paulo Portas, na altura Ministro da Defesa. Da parte alemã assina o consórcio German Submarine Consortium (GSC). "Só lendo o contrato da aquisição via-se que os interesses do Estado Português tinham sido clamorosamente negligenciados, no mínimo, e que os contribuintes portugueses iriam pagar uma factura absurda e majorada indevidamente nos termos desse contrato. As primeiras pesquisas levam a uma conclusão: o concurso público internacional não foi transparente. A documentação disponível dá provas de que houve alguma falta de respeito pelas regras e pela legalidade. Nos finais dos anos 90 ainda se encontram na corrida cinco diferentes empresas para o fornecimento de submarinos à Marinha Portuguesa. O consórcio alemão não está na frente desde o início no que diz respeito às vantagens operacionais. Numa categoria, no entanto, os alemães conseguem convencer: as contrapartidas. Finalmente os alemães atingem o seu objectivo: são escolhidos como fornecedores dos submarinos à Marinha Portuguesa. As contrapartidas são apresentadas pelo Governo como argumento principal. O contrato das contrapartidas. Neste documento, igualmente secreto, o consórcio alemão compromete-se a investir em Portugal. As encomendas deverão ultrapassar os custos dos dois submarinos: mais de 1200 milhões de euros. Vamos a Viana do Castelo. Uma cidade costeira no Norte de Portugal. Durante muitos decénios construiram-se aqui barcos e fragatas sobretudo por encomenda da Marinha Portuguesa. A crise internacional dos estaleiros não poupa Viana do Castelo, mas o negócio dos submarinos devolve alguma esperança aos cidadãos. Os alemães prometem muitas encomendas nos estaleiros. Essas encomendas trarão muito trabalho, dizem os alemães. As promessas são muitas em 2004, no ano em que é assinado o contrato da aquisição. "Em 2004, quando o senhor ministro Dr. Paulo Portas veio cá a Viana do Castelo, e que vinha muitas vezes de helicóptero aqui a Viana do Castelo, nós tinhamos uma expectativa que a nossa empresa a nível tecnológico ía dar um salto qualitativo muito grande, a nível produtivo e a nível competitivo." "A ideia que se passou na altura era que aquilo ía salvar os estaleiros. Eram as infraestruturas que vinham, eram as novas encomendas, como foi dito ficaram por fazer 250 milhões. Portanto aquilo era o levantar do estaleiro." "No âmbito das contrapartidas, em termos do consórcio alemão que teria que disponibilizar para Portugal encomendas e a disponibilização de material a nível de outras instalações de uns estaleiros navais da Alemanha para os Estaleiros Navais de Viana do Castelo." O estaleiro Flender em Lübeck, no Norte da Alemanha, tinha declarado insolvência em 2002. Uma boa oportunidade, pensaram os alemães, para desmontar as gruas e máquinas e transportá-las para Portugal. "Recebemos, portanto, a transferência de um estaleiro naval da Flender, na Alemanha, para Viana do Castelo, em que a desmontagem, na Alemanha, o transporte desse material e a montagem aqui em Viana do Castelo parcialmente desse material que cá veio seria a cargo, neste caso, do consórcio alemão e foram os estaleiros no final que pagaram 25 milhões de euros para fazer essa montagem e esse transporte da Alemanha para cá. No âmbito desse material que veio portanto parar a Portugal da Flender foi, na altura, avaliado em 250 milhões de euros." Meses depois descobre-se que o estaleiro que foi desmontado na Alemanha não vale nem de longe 250 milhões de euros, segundo um estudo elaborado por um empresa internacional independente o estaleiro não vale mais que 48 milhões. Esse valor refere-se a 2004. A transferência de tecnologia de ponta da Alemanha para Portugal não passa de uma mera transferência de um velho estaleiro que de outra forma teria ido para a sucata. Estas imagens foram captadas pelos próprios operários dos estaleiros. Imagens do que resta do estaleiro Flender. Nós próprios não obtivemos autorização para filmar no interior do recinto dos estaleiros de Viana do Castelo. Dez anos depois da assinatura dos contratos da aquisição e de contrapartidas, os estaleiros de Viana do Castelos estão falidos. 700 trabalhadores no desemprego. "Estamos perante o cenário negro da história desta grande empresa que tem, faz este ano, 70 anos de vida." "Os dias aqui passam-se dia-a-dia, esperando que apareça sempre alguma coisa no dia seguinte. É triste." As encomendas prometidas, a transferência de tecnologia da Alemanha para Portugal: falsas promessas. Grande parte das contrapartidas no valor de quase 700 milhões de euros que eram supostas serem transferidas para Viana do Castelo nunca aqui chegaram. Hoje os operários são da opinião que o consórcio alemão tinha apenas um objectivo: vender submarinos. E para isso tudo servia, inclusive falsas promessas de falsas contrapartidas. "É assim que funcionam as denominadas contrapartidas nos negócios internacionais de armamento. São feitas muitas promessas e essas promessas servem para que os políticos consigam vender à opinião pública os negócios de armamento." "Se me compras uma fragata ou um submarino eu invisto um ou dois mil milhões no teu país. É assim que negócios do armamento funcionam." "É uma grande mentira desde o início; ninguém tem a intenção de cumprir." Os representantes do consórcio dos submarinos terão mesmo tentado validar negócios inventados e declará-los como contrapartidas. Encontro com uma testemunha nas docas de Lisboa. Um ex-empresário e ex-deputado português conta que fora abordado pessoalmente por representantes do consórcio alemão que queriam que ele fizesse falsas declarações de contrapartidas sobre negócios nunca realizados. Em troca ofereciam-lhe comissões. "Rejeitei quer os projectos fantasmagóricos, como digo, quer essa ideia das comissões, não é." Mas houve muitas outras empresas portuguesas que alinharam, algumas outras. "Suponho que sim, suponho que sim." Qual era o interesse dessas empresas? "Era receber uma pequena comissão, quer dizer, se uma empresa, se alguém chega a uma empresa portuguesa e lhe diz: "Você está a vender componentes para a Volkswagen ou para a BMW, normalmente é o seu negócio, se você nos disser através de uma declaração que esses componentes foram feitos por nosso intermédio nós pagamos 1%, 2%, sei lá, não faço ideia." A procura sistemática de negócos para serem considerados contrapartidas. Dentro do consórcio alemão essa tarefa era incumbida à empresa Ferrostaal. Em Portugal, a Ferrostaal recorria aos serviços de empresas de consultadoria, por exemplo, à ESCOM, um subsidiária do Grupo Espírito Santo. É necessário ver que a empresa ESCOM, por um lado era agente dos alemães, a representante dos alemães em Portugal, como já tinha acontecido dos ingleses e dos italianos no caso dos helicópteros, por outro lado era o agente junto da comissão de contrapartidas e do Governo Português, dizendo que defenderia o interesse nacional. As nossas fontes revelam que o consórcio alemão, nomeadamente a Ferrostaal, contactou directamente empresários portugueses por carta e por email, mais precisamente a ACECIA. a Associação da Indústria de Componentes Automóveis. Vejamos algumas dessas cartas. No dia 17 de Agosto de 2005, a senhora Antje Malinowski, colaboradora da Ferrostaal na área das contrapartidas, escreve à ACECIA, propondo comissões aos empresários portugueses, segundo uma determinada tabela. O termo inglês escolhido é management fees. Os alemães pedem que a proposta do German Submarine Consortium seja tratada com a máxima confidencialidade, não podendo ser divulgada a terceiros. Assinatura: Wenfried Hotten, na altura chefe da secção de contrapartidas da Ferrostaal, e a sua colaboradora Antje Malinowski. No dia 23 de Setembro de 2005 é assinado um acordo com o mesmo teor, denominado Offset Compensation Agreement, também secreto. Assinam os representantes da ACECIA, assim como da parte alemã o representante do German Submarine Consortium, Horst Weretecki. Foi depois desse acordo que as manipulações começaram em grande estilo, recorda o ex-empresário Henrique Neto que era dono de uma empresa de moldes sedeada em Leiria. "Criaram um projecto de contrapartidas completamente fantasmagórico em que convidavam as empresas portuguesas a participar naquilo, mas que era uma forma de limpar e de evitar criar as condições para que a empresa do consórcio alemão pudesse fazer o write-off das contrapartidas praticamente sem mais nada. Era um projecto fantasmagórico de fazer um avião não tripulado, que eu recusei, porque o projecto não tinha nenhumas condições para poder ter eficácia real, e eles queriam fazer um write-off que, se bem me lembro, na altura era qualquer coisa como 200 milhões de euros, que era uma coisa absurda." Lisboa, 14 de Fevereiro de 2014, dia da sentença num dos vários processos referentes ao negócio dos submarinos a decorrer em Portugal. Os arguidos Horst Weretecki, responsável pela área das contrapartidas na Ferrostaal, e Antje Malinowski, a sua colaboradora, juntamente com Winfried Hotten e alguns empresários portugueses Eles são acusados de falsificação de documentos e burla qualificada. Os advogados dos alemães contestam as provas, os relatórios e os pareceres apresentados pela acusação. No meio do processo é divulgado que o Governo Português iniciara conversações com os alemães mostrando-se aberto a renegociar o contrato sobre contrapartidas assinado em 2004. A sentença é a esperada: todos os arguidos são absolvidos. Os juízes portugueses alegam que neste caso não há verdadeiros prejudicados, uma interpretação que agrada ao advogado da empresa alemã Ferrostaal, Godinho Matos. "Eles não estão a responder pelo dossier das contrapartidas, digamos assim, eles estão a responder por serem acusados por em certos factos concretos terem criado condições para o Estado ser enganado, e o tribunal o que diz é: não, estes senhores nestes factos concretos não enganaram quem quer que fosse." Portanto não há prejudicados. "Não, o Estado Português poderá ter sido prejudicado, mas não por estes senhores, não por estes arguidos." Por quem? "Isso tem de perguntar à polícia." Presente também um porta-voz da Ferrostaal que tinha vindo propositadamente de Hessen, na Alemanha, para assistir à sentença em Lisboa. A Ferrostaal não cometeu qualquer erro? "Exacto, não cometemos qualquer erro no passado e também neste processo correu tudo bem." Então vão continuar com os vossos negócios como até à data? "Este processo sobre contrapartidas durou cerca de ano e meio e o tribunal disse" muito explicitamente que não existem provas de que houve qualquer tipo de fraude, portanto, sim, vamos continuar a trabalhar como sempre e respeitar as nossas obrigações contratuais." Antje Malinowski, Horst Weretecki e outros senhores do consórcio alemão dos submarinos tudo indica não têm nada a temer em Portugal, embora o processo passará para uma seguinte etapa. "A investigação esteve, digamos, sempre ao lado de não investigar. O tribunal em presença da fraca investigação feita e sendo isto um problema do Governo, e não tendo o Governo feito nada para clarificar, o tribunal assumiu esta posição: não somos nós que vamos condenar, o Governo que clarifique isto, porque o Governo é que tem informações mais que suficientes e documentos." No mesmo dia do processo voltamos a Viana do Castelo. Os comentários na comunicação social sucedem-se e são explícitos. "Viana do Castelo e os seus habitantes não são as únicas vítimas, existem outras cidades com outros cidadãos que pagam a factura amarga dos negócios corruptos, negócios perpretados por consórcios sem escrúpulos, negócios aprovados por políticos sem moral, nem princípios, e sem controlo por parte da justiça. Uma justiça que impede que os criminosos sejam punidos." Na taberna do Tone Bento, um dos pontos de encontro dos ex-trabalhadores dos estaleiros, também se fala muito sobre a sentença do Tribunal Criminal de Lisboa. "E eles roubaram e agora estão todos a sair ilibados nos tribunais." "Foi alguém penalizado nos submarinos? Nos submarinos não foi ninguém, saiu tudo ilibado, saiu tudo ilibado." "3 alemães e 2 portugueses." "E na Alemanha passou-se o mesmo." "Foram ilibados em tribunal." "E na Alemanha passou-se o mesmo. Apanharam ali 2 ou 3 culpados, parece que sim, e o resto onde é que está a máfia? Onde está? Onde é que eles estão? As primeiras suspeitas de corrupção no negócio dos submarinos surgiram em 2005, no âmbito de um outro processo são feitas escultas ao ministro Paulo Portas e ao tesoureiro do seu partido. O Ministério Público, em Portugal, inicia então pesquisas em Portugal e também na Alemanha. "As procuradoras portuguesas fizeram um trabalho notável, foram apoio do Eurojust à Alemanha fazer buscas conjuntas com os procuradores alemães de Hessen aos escritórios da Ferrostaal, descobriram imensa documentação muitíssimo relevante que obviamente ficaram nas mãos das autoridades alemãs, durante anos estiveram à espera que essa documentação lhes chegasse às mãos, todos os pretextos eram utilizados para demorar a entrega dessa documentação." Encontro com dois activistasda organização Corruption Watch com sede em Londres. Eles viajaram nos últimos com alguma frequência à Alemanha. "Tudo o que se sabe sobre o negócio dos submarinos em Portugal leva-nos à conclusão de que o caso é típico." "É sabido que houve pagamento de luvas a figuras-chave em Portugal, estamos a tentar seguir o rasto a pelo menos 33 milhões de euros, transferências cujo destino e cujas referências nunca foram esclarecidos." Andrew Feinstein e Paul Holden descobrem casos de corrupção envolvendo o consórcio alemão de fragatas e submarinos um pouco por todo o mundo: na África do Sul, na Coreia do Sul, na Grécia e em muitos outros países, incluindo Portugal." 21 de Dezembro de 2011. No Tribunal Criminal de Munique é lida a sentença contra a Ferrostaal, a empresa que organizou a venda dos submarinos à Grécia e a Portugal. O tribunal chega à conclusão que em ambos os casos houve corrupção A empresa Ferrostaal é condenada a uma multa de 140 milhões de euros. Dois directores da mesma empresa são condenados a penas de prisão suspensas. Os jornalistas normalmente têm direito a consultar o teor dos acórdãos do tribunal, mas o tribunal de Munique nega esse direito: diz que a sentença não é pública. A Procuradoria de Munique também rejeita entregar a sentença. Por escrito alegamos que existe uma lei de liberdade de informação válida em toda a Alemanha, mas a Procuradoria de Munique discorda. Por escrito responde-nos que, citamos, "essa lei a que o jornalista se refere neste caso não tem validade no Estado Federal da Baviera". Mais tarde descobrimos que a procuradoria e os advogados da Ferrostaal tinham negociado precisamente isso: sem autorização dos arguidos condenados a sentença não poderá ser divulgada. Nem todos os funcionários da justiça de Munique concordam. Discretamente é-nos entregue um envelope com todo o material que oficialmente não é suposto ser divulgado. A documentação que pela vontade da procuradoria nunca deveria sair dos cofres do tribunal. Uma primeira consulta à sentença mostra a dimensão da corrupção praticada. Na Grécia, a empresa alemã terá subornado vários membros do Governo para obter a desejada encomenda de quatro submarinos. No caso de Portugal, o Tribunal de Munique debruça-se sobretudo sobre o pagamento de honorários de consultadoria por parte da Ferrostaal a um cidadão alemão. O Dr. Jürgen Adolff Adolff, que era cônsul honorário de Portugal em Munique, recebera muito dinheiro para apoiar o consórcio alemão nos seus negócios em Portugal: mais de 1 milhão e 600 mil euros. Vejamos o protocolo feito pelo próprio Dr. Adolff sobre as suas atividades em prol do consórcio alemão dos submarinos. No dia 5 de julho de 2002 os alemães conseguem levar o chefe do Governo de então a Munique, José Manuel Durão Barroso vai à Fundação Hanns Seidel pertencente ao Partido Cristão Social, da Baviera. O cônsul Dr. Adolff organiza um almoço com o director da Ferrostaal, Hanfried Haun. Nesse dia fica combinado resolver o assunto dos submarinos 7 de Fevereiro de 2003. O Ministro da Defesa, Dr. Paulo Portas, vem à Alemanha. Adolff vai recebê-lo ao aeroporto de Munique. O cônsul faz a seguinte anotação: "Conversa a quatro olhos, entre outras questões foi abordada a questão dos submarinos." 8 de fevereiro de 2003. Hotel Bayerischer Hof. À margem da conferência de Munqiue de segurança, Paulo Portas avista-se com o Presidente da Comissão de Defesa do Parlamento Federal Alemão, o Dr. Adolff organiza esse encontro. Adolff anota o seguinte: "Procurou-se uma solução viável para a questão dos submarinos". 30 de junho de 2003. Novo encontro com o Primeiro-Ministro José Manuel Durão Barroso desta vez em Berlim. Durão Barroso avista-se com o chanceler alemão de então. Em Berlim, o Dr. Adolff contacta também o Ministério dos Negócios Estrangeiros da Alemanha. Tema das consultas: venda de submarinos a Portugal. Adolff vai também ao Ministério Alemão da Economia, mais precisamente às secções de exportação e financiamento. Vários encontros tiveram lugar em Lisboa, nas reuniões, almoços e jantares participam quase sempre as mesmas personalidades ligadas ao Primeiro-Ministro e ao Ministro da Defesa, da parte alemã vários membros da direcção da Ferrostaal, assim como Jürgen Adolff e a sua esposa Rita Adolff. Desde o início a tarefa de Adolff é convencer a parte portuguesa a comprar os submarinos alemães e não os dos concorrentes franceses. O cônsul honorário também veicula notícia em Portugal de que os alemães estariam dispostos a investir muito dinheiro nos estaleiros de Viana do Castelo. A eurodeputada Ana Gomes segue o caso Adolff com atenção. Terá um alemão de Munique influenciado a política em Portugal? Será que os políticos que detinham na altura o poder em Portugal tentam agora proteger de alguma forma o antigo cônsul honorário? "Sei que o senhor Jürgen Adolff foi nomeado cônsul honorário de Portugal em Munique pelo Dr. Durão Barroso quando era Ministro dos Negócios Estrangeiros. Foi um dos agenciadores contratados pela Ferrostaal para garantir não só que Portugal dava o contrato à Alemanha, e depois em 2010 foi demitido do cargo de cônsul honorário pelo Governo Português, pelo governo de Sócrates, mas estranhamente até hoje, que eu saiba, não houve participação criminal sobre ele." Munique, 5 de março de 2014. Acaba o processo que decorria no tribunal criminal contra o Dr. Jürgen Martin Adolff, acusado de corrupção passiva. Era legal o cônsul honorário de Portugal trabalhar também e paralelamente para o consórcio que pretendia fazer negócios com Portugal? Era legal o ex-cônsul receber a quantia de 1 milhão e 600 mil euros da Ferrostaal? O tribunal alemão diz que não. Adolff é condenado a uma pena de um ano e meio de prisão condicional, a sua idade avançada de 77 anos é apresentada como razão. Mas Adolff não é o único que aceitou subornos, muito mais dinheiro terá sido distribuído para corromper decisores ou supostos decisores. Quanto? A quem? A empresa Ferrostaal terá pago enormes somas não só a gente chave em Portugal, como também, e sobretudo, um pouco por todo o mundo. A Ferrostaal encomendou um estudo interno a que eu tive acesso e nesse documento admite-se que a empresa transferiu mais de 1100 milhões para 16 países diferentes. Eu diria que foram somas destinadas à corrupção." O estudo interno foi encomendado pela própria Ferrostaal a um escritório de advocacia norte-americano especializado em compliance, boa governação empresarial. Esse estudo contém muita informação interna sobre os negócios controlados pela Ferrostaal nos últimos anos. As informações referentes a Portugal são poucas mas elucidativas: mais de 30 milhões de euros terão sido transferidos para intermediários em Portugal, para a empresa ESCOM, para um ex-militar português e para o Dr. Jürgen Adolff. Follow the money. Persegue o rasto do dinheiro. É essa a fórmula do activista anti-corrupção Andrew Feinstein. É precisamente por isso que vamos ao Algarve. Soubemos que o ex-cônsul Adolff é dono de muitos imóveis nesta região turística. É aqui, em Santa Bárbara de Nexe, a casa do Dr. Jürgen Adolff quando ele não está em Munique. As nossas informações apontavam para que ele tivesse viajado para o Algarve depois da sentença no tribunal de Munique, e de facto vislumbramos um carro de matrícula alemã, mas não conseguimos encontrar o Sr. Adolff Dizem-nos que este não é o único imóvel dos Adolff e que eles terão muito mais. Vamos à aldeia para obter mais informações. Os vizinhos lembram-se bem da chegada do alemão ao Algarve. "Na altura que ele começou a comprar isso diziam que comprava caro. Agora por fim, naturalmente, já comprava barato. Agora na altura diz que que comprava caro. Nos primeiros tempos diz que comprava caro." A casa dos Adolff, protegida por muros e câmaras, quanto do dinheiro de suborno terá sido transferido para o Algarve? Vamos à procura de informação mais detalhada. Informação oficial no Registo Civil e Finanças de Faro Conseguimos apurar que o casal Adolff é dono de várias empresas imobiliárias no Algarve. Essas empresas são avaliadas em cerca de 4 milhões de euros. Uma delas é composta por quase 60 imóveis diferentes Um dos projectos aprovados prevê um investimento de quase 9 milhões de euros Vamos de novo ao Alfeite, à base da Marinha. Voltamos a pedir autorização para filmar os submarinos de fabrico alemão. Será que os submarinos são utilizados? Possivelmente em manobras da NATO? Em missões científicas ou de pesquisa? No apoio a náufragos ao largo da costa dos Açores? A Marinha Portuguesa saberá mas provavelmente não estará interessada em responder a estas perguntas. Apenas a seguinte informação: desta vez podemos filmar o segundo dos dois submarinos, o Arpão. O Tridente está na Alemanha, nos estaleiros de Kiel, onde efectua mais uma inspecção. Depois recebemos mais uma notícia inesperada, podemos entrar e filmar no interior do submarino Arpão. Os submarinos da classe 214 são considerados os modelos mais recentes dos estaleiros da ThyssenKrupp Marine Systems. Paulo Garcia, o Comandante do Arpão, fornece-nos algumas informações adicionais. A mais inovadora característica destes submergíveis é a propulsão independente de ar o que aumenta consideravelmente o tempo de navegação nas profundidades do mar. "(...) parte de operação do submarino, é onde estão as pessoas que estão a operar o submarino quando estamos no mar. Portanto, aquele é o sistema de combate, é da Atlas Elektronik, toda a parte de automação e de controlo no navio em si é deste lado é da Siemens, é um sistema da Siemens." Submarinos são armas de ataque equipados com mísseis e torpedos. Aparelhos apetrechados com muita técnica de fabrico alemão. Milhares de empregos na Alemanha dependem portanto de produtos como estes submarinos. Será por isso que os políticos na Alemanha não ousam questionar os métodos de venda destes produtos? Vamos a Berlim. Queremos saber mais sobre as ligações entre a política e as grandes empresas alemãs de produção de armamento. Salientar que os mais importantes estaleiros alemães praticamente só produzem armamento. Conseguimos marcar encontro com o presidente da Comissão Parlamentar da Defesa, Hans-Peter Bartels, é precisamente oriundo de Kiel, cidade onde estão sedeados os estaleiros da ThyssenKrupp. Vocês do Partido Socialista Alemão, SPD, têm um grupo de apoio aos estaleiros, não é verdade? "Sim, trata-se do denominado Gangue da Costa, o Gangue da Costa do SPD, de que fazem parte os deputados oriundos das costas do Norte da Alemanha. Somos muito unidos, protegemos os nossos representantes e temos um denominado chefe do gangue, é um homem muito qualificado e agora até faz parte do Governo. É Secretário de Estado dos Assuntos Marítimos, o Sr. Uwe Beckmeyer." Queremos falar com o senhor Secretário de Estado Beckmeyer, mas o homem está muito ocupado, não quer falar com a imprensa, e durante vários meses rejeita dar entrevistas. Entretanto, um deputado da Oposição entrega-nos um documento confidencial, uma nota do Ministério da Economia dirigida à Comissão do Orçamento do Parlamento Alemão. Nessa nota dá-se conta de uma nova mega-encomenda de submarinos, desta vez vinda de Singapura. O Governo anuncia que vai dar garantias de exportação para mais dois submarinos de uma nova classe denominada 218SJ. Os mercados mais promissores estão agora na Ásia, isso é sabido. Berlim pretende dar mais um empurrão aos produtores alemãos de armamento, sobretudo tendo em conta, citamos, "a necessidade de superar os concorrentes, nomeadamente da Suécia e em França". Pretende-se também proteger o emprego na Alemanha. Kiel. É aqui que são montados os submarinos que tanta alegria dão à indústria exportadora alemã. Barcos de guerra que oficialmente são denominados industrial solutions, soluções industriais, soa mais à civil. Os mercados europeus parecem estar esgotados. Agora há que conquistar os mercados emergentes, sobretudo na Ásia. Mas será que esses futuros negócios decorrerão com mais transparência e menos corrupção? Os porta-vozes da ThyssenKrupp dizem que sim. A ThyssenKrupp é uma das empresas menos corruptas, dizem. De facto, a empresa dona dos estaleiros - a ThyssenKrupp - separou-se da Ferrostaal. Desde então as vendas são organizadas directamente pela ThyssenKrupp, diz a mesma fonte. A filiada ThyssenKrupp Marine Systems dispõe de um grande escritório em Singapura através do qual estão a ser organizados os negócios na Ásia. um dos chefes em Singapura é Jonathan Kamerman. "Cruzei-me com Jonathan Kamerman pela primeira vez quando eu ainda era deputado na África do Sul. Kamerman era na altura almirante da Marinha Sul-Africana, e ele estava envolvido num mega-negócio que muito intransparente e que eu tentava investigar." Empresas alemãs tinham assinado um mega-contrato com o Governo Sul-Africano em 1999. Um mega-negócio de submarinos e fragatas. Uma comissão parlamentar de inquérito tentara esclarecer o assunto, mas não é fácil provar todas as suspeitas. Fala-se em pagamentos de luvas no valor de mais de 1000 milhões de rands. Andrew Feinstein e Paul Holden ficaram chocados com a dimensão da corrupção germano-sul-africana. As suas investigações conduzem a um nome: Jonathan Kamerman. "O papel de Jonathan Kamerman nestes negócios de armamento pode ser classificado de extremamente duvidoso." Estas imagens de arquivo mostram o ex-militar sul-africano em entrevista a uma TV indiana. Ele faz publicidade a favor de fragatas de fabrico alemã da ThyssenKrupp, a sua empregadora. "Ele é um homem que começou a sua carreira na África do Sul, participando num dos negócios mais corruptos da história, saindo depois para o mundo no intuito de fazer uma carreira internacional, baseando-se precisamente nessa experiência. Kamerman é um daqueles que se movem muito confortavelmente naquilo que denominaria de corrupção nos negócios globais de armamento." Kiel. De novo nos cruzamos com um submarino de bandeira portuguesa. O contrato prevê que as inspecções deverão ser feitas precisamente na Alemanha. Cada uma das inspecções custará 5 milhões de euros, por ano, por barco, durante 30 anos. "O Governo Alemão deveria castigar e regular as empresas alemãs de armamento que recorrem a métodos sujos, mas infelizmente não é isso que acontece, antes pelo contrário, o Governo Alemão é parte integrante do sistema que permite que empresas como a ThyssenKrupp, German Submarine Consortium ou a Ferrostaal actuem como actuam no mercado global de armamento." Transcrição e legendagem: LA / TColour.

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