Albert Einstein College of Medicine - O quadro é o Nascimento da Vênus de Sandro Boticelli um painel pintado a têmpera uma obra prima do Renascimento é um quadro peculiar para a época porque se trata de um tema pagão, quando a maioria dos pintores daquela época desenvolviam temas entorno do cristianismo e foi pintada a tempera, enquanto a maioria pintava com tinta a base de óleo mas a concepção estética de Boticelli também é peculiar pois na realidade se levarmos em consideração que este quadro foi pintado em 1483 -1485 período no qual Leonardo da Vinci estava pintando a Virgem dos Rochedos a primeira versão da Virgem dos Rochedos Leonardo reflete a pesquisa da época, onde o espaço plástico tem muito mais profundidade, como vemos nesta área do fundo, com toda perspectiva que está sendo utilizada, e as figuras têm muito mais volume, sentimos mais a estrutura em três dimensões A estruturas da forma sendo trabalhada em três dimensões Colocando os trabalhos lado a lado sentimos isso com muito mais clareza Boticelli é mais planar, respeita o plano bidimensional do quadro e o espaço é todo produzido por uma sucessão de planos paralelos a boca de cena. Boticelli, em realidade, segue e continua a tradição dos muralistas do pré-Renascimento como por exemplo, no caso, Giotto Observando um quadro de Giotto um Afresco no caso, percebemos como as formas são trabalhadas em áreas distintas. contornadas por uma linha limpa, por uma linha clara que separa uma forma da outra em áreas bem distintas. Mas no caso, Giotto já está se mostra um precursor do que seria uma atitude mais realista, que dá volume as formas, como vemos em certos panejamentos, de modo que, se quisermos ver com mais clareza, o que era desdobrado por esta concepção estética, o ideal é voltarmos um pouco e observarmos um trabalho, por exemplo, de Duccio ou de Simone Martini. Neles percebemos que a concepção do espaço é mais planar mesmo, e as formas são traçadas, organizadas, em uma composição onde elas são colocadas mais lado a lado do que uma sobre a outra. Pensa-se mais a composição do plano bidimensional do que na composição de um espaço em três dimensões. Em Duccio, por exemplo, temos áres de cor e claro escuro que são bem distintas e que tem contornos bem precisos. A noção de área começa a ser fundamental. A área no sentido de uma região contornada por uma linha limpa, definida, que isola uma área de cor ou claro escuro da outra. Se observarmos o quadro em preto e branco, percebemos areas de claro-escuro bem distintas. Pode ser um planejamento, um livro, uma parede, um buraco de uma porta mas são áreas que tem em si uma cor e um determinado tom, pelo menos geral, de claro escuro. Hora, Boticelli segue mais esta tradição de um jogo de areas no plano bidimensional do que a outra, que tem uma preocupação em colocar as figuras no espaço tridimensional. É claro que há um claro escuro, uma ligeira oscilação de volume, mas ela não é tão radical quanto a do contexto de sua época. A ênfase é dada, nesse caso, a um contorno das áreas que estão sendo compostas. Essa linha de contorno tem o maior peso ou uma maior importância na estrutura plástica do quadro. O tema do quadro é um tema pagão, como foi dito. O nascimento da Vênus que era a deusa do amor e da beleza. Ela pertence ao panteão Romano Deusa equivalente a Afrodite no mundo Grego. É um trabalho, portanto, que tem seu fundamento semântico, temático, ligado a tradição greco-romana. Os antigos consideravam que a Vênus, como deusa da beleza e da graça, possuía uma estrutura anatônica divina, tinha o corpo idealizado da mulher. O que é engraçado, pois na realidade, anatomicamente, a figura contém fortes distorções. Se observarmos com mais cuidado a estrutura da figura, percebemos, por exemplo, como este ombro ... é esticado,... Na clavícula, se imaginarmos a estrutura sem o cabelo, percebemos que uma está mais no alto do que a outra Parece não encaixar o lado direito com o esquerdo, o pescoço parece alongado e a cabeça parece não encaixar direito nele. A estrutura desse baço, também parece demasiadamente alongada A forma se assemelha mais a uma "batata doce" do que a algo atomicamente correto, isso considerarmos o contexto mais realista e naturalistas e do Renascimento Mas, no todo, nem percebemos estas distorções. A figura mantém uma naturalidade, uma ocorrência. Se me arisco a dizer, não o conheço na história da pintura nenhuma figura feminina que tenha sido pintada com tanta graça e beleza A figura realmente "fala", com certa naturalidade, dessa graça e beleza do corpo da Vênus Isso é feito justamente porque, apesar de não haver um realismo, há uma coerência plástica, as linhas falam, essas distorções tem uma função que na realidade é plástica, adquirindo um funcionalidade convincente. No mito, a Vênus nasce dentro de uma concha de madrepérola e é gerada pelas espumas. Boticelli a coloca sobre a concha sendo empurrada para margem por Zéfiro. Este personagem da esquerda do quadro, que sopra a Vênus para a margem, onde ela é acolhida pela "Hora". As "Horas" eram as deusas das estações. A Hora a acolhe com um manto de rosas tratando-se certamente da Primavera. O Zéfiro representa também o vento Oeste, que pode ser um vento devastador, mas também aquele vento que anuncia a chegada da primavera. Ele é representado soprando a Vênus. Este sopro do Zéfiro tem uma grande importância na estrutura compositiva do quadro porque ele cria, na realidade, uma grande força de campo, como se fosse uma seta, que se projeta para cima da estrutura na Vênus balançando a sua estrutura. A força de campo atua no espaço plástico criando uma tensão visual que ocupa um espaço vazio. A Cultura Oriental utilizou muito, com muita sabedoria, estas forças, por exemplo. Mas temos exemplos simples como no caso acima onde uma determinada forma cria uma força que a expreme e no outra sentimos uma força de expansão. O fundamento abstrato disso é ligado a própria linha em si. Quando traçamos uma linha qualquer em zig zag, temos forças que atuam, empurrando-a para um lado puxando-a para um outro uma pequena força a empurra de volta... Estas são forças que atuam em cima da linha e conseqüentemente da forma. Não é por acaso que o eixo da Vênus está balançado, ela está inclinada enquanto o natural neste caso seria se traçarmos um vertical, embaixo da cabeça estaria o pé de apoio de uma figura nesta posição No caso os pés da Vênus estão totalmente deslocados deste ponto. E se abrem criando um leque para a parte superior, que também a reter este movimento, criando uma grande curva no campo visual. É uma curva feita por uma tensão plástica, não é uma linha propriamente dita, mas ela tem uma forte função compositiva. E assim começamos a ver que existe uma relação estreita entre o tema semântico, iconográfico, que está sendo trabalhado, e o tema plástico, abstrato, que está sendo composto. A força de campo inegavelmente é a idéia plástica que norteia a estrutura de todo o quadro. É claro que ela não está isolada, antes dela a composição no seu todo está inserida dentro de um grande triângulo, e que é a quebrada por essa força de campo que se projeta para dentro da Vênus.
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