Curso Tecnico Caic Alfenas

New York State College of Veterinary Medicine - Obrigada! Obrigada! Vocês conseguem ouvir-me? Ok, óptimo! Hoje vou falar sobre alguns dos princípios e ferramentas do meu último livro. E vou falar sobre como os vegans podem criar relações saudáveis e comunicar eficazmente. Eu escrevi este livro... Muita gente não sabe isto sobre mim, mas eu sou uma conselheira de relacionamentos há muito tempo. E como vegan profissional já há 6 anos que viajo o mundo, tenho falado com milhares e milhares de vegans e vegetarianos e às vezes com os não-vegans com quem eles se relacionam também e apercebi-me que imensos vegans por todo o mundo desde a Latvia à África do Sul experienciam o mesmo tipo de situações. Muita gente constatou que é algo poderoso, e vocês provavelmente concordam, que tornarem-se vegan foi uma das experiências mais poderosas da vida delas. E elas sentiram-se incríveis acerca desta transformação pessoal que experienciaram. Mas quando elas voltavam para casa ou voltavam às suas vidas e partilhavam o que tinham aprendido e partilhavam esta mudança com as pessoas nas vidas delas, o seu entusiasmo transformava-se rapidamente em choque e horror. Elas descobriram que muitos dos seus relacionamentos e comunicações começaram a deteriorar-se. Estou curiosa para saber quantos de vocês se revêem nisto. Certo, cerca de 99,9%... Oh 100%! Gostava de ouvir de vocês quais são os problemas mais comuns. Podem dizer alto. Quais são os problemas mais comuns que sentiram tanto nos vossos relacionamentos como na vossa comunicação enquanto vegan. Não se sentem ouvidos, certo? Dizem a mesma coisa de 30 maneiras diferentes e mesmo assim não os alcançam. Mais outro exemplo? Ouvirem “Tu fazes as tuas escolhas e eu faço as minhas, deixa-me em paz, não me fales do teu veganismo.” Que mais? Apatia. Certo? Então, vocês acham que vão para casa e que vão dizer “Sabes o que descobri?” e que vai ser super fácil para as outras pessoas dizerem “Uau! Obrigada por me informares, eu nunca mais vou comer carne, ovos ou leite.” Nós sabemos que isto nem sempre acontece. Há estudos e pesquisas que demonstram que as pessoas que se sentem realizadas com os seus relacionamentos dão-se melhor nos outros aspectos da vida. São mais felizes, mais saudáveis, vêem o risco de certas doenças reduzido, vivem mais tempo e até têm mais sucesso nas suas carreiras. Por isso conseguem imaginar o impacto da ausência de relacionamentos satisfatórios nas nossas vidas. E depois imaginem o impacto da presença de relacionamentos perturbados. Este problema nos relacionamentos e ruptura de comunicação têm um custo elevado. Tanto para nós enquanto indivíduos e vegans mas também para muitos vegetarianos que sentem o mesmo, embora isto possa ser uma surpresa para alguns vegans. Isto tem um custo elevado para nós vegans pessoalmente e também tem um custo elevado para o movimento como um todo. Os vegans são a máquina do movimento. E quando as nossas relações estão perturbadas nós acabamos por nos sentir sem forças e frustrados. Sentimo-nos misantropos. Sabem o que significa esta palavra? É tipo ... Odiar humanos. Mas vocês não se reveem nisto certo? Niguém nesta sala se revê nisto. Somos embaixadores menos eficazes pela causa. Nós somos as máquina do movimento e uma quantidade enorme de energia está a ser sugada de nós quando ficamos exaustos e frustrados ao tentar lidar com estes relacionamentos complicados e ao tentar comunicar quando a comunicação parece quase impossível. Conseguem-se rever nisto? Mas há boas notícias! A ruptura de relacionamentos e de comunicação não é inevitável e é também reversível. Na verdade, os relacionamentos podem ser restaurados e podem inclusivé ser fortalecidos ainda mais do que antes. Eu estou a referir-me a todos os tipos de relacionamentos, relacionamentos românticos com o vosso parceiro mas também com amigos e família, o relacionamento com vocês próprios e também relacionamentos entre vegans. Os princípios de que vou falar hoje aplicam-se a todos os tipos de relacionamentos. Vamos começar por falar sobre o que causa a ruptura de relacionamentos e comunicação. Para começar nós temos uma educação limitada sobre como ter relacionamentos saudáveis e como comunicar eficazmente. Eu fico constantemente surpreendida que nós gastamos imenso tempo a aprender geometria complexa, que talvez nunca usemos e não temos uma única lição sobre ter um relacionamento saudável e como comunicar eficazmente. Isto é um problema que afecta toda a gente e não apenas vegans em relacionamentos. Outro problema é que esta diferença veg/não-veg, o carnismo (a psicologia de comer animais), e eu falarei sobre isso resumidamente mais tarde, cria stress adicional. Então, não temos educação sobre como ter relacionamentos saudáveis, mesmo relações entre pessoas que partilham a mesma ideologia nem sempre são fáceis e agora temos esta ideologia diferente à mistura. Esta diferença de ideologias é naturalmente problemática pois afecta a percepção das pessoas à cerca de comer ou não comer animais. Uma terceira razão é que ser vegan pode criar o seu próprio stress. Ser vegan num mundo não-vegan, numa cultura dominante em que se comem animais, é incrivelmente poderoso, mas é também um desafio e afecta-nos psicologicamente de diversas maneiras que nem sempre nos apercebemos. Hoje vou falar de uma série de princípios e vou dar também algumas dicas para melhorar todos os tipos de relacionamentos e comunicação. Debaixo de tudo isso, uma coisa que temos que nos lembrar, é que debaixo das nossas ideologias, estão diferentes ideologias. Seja veganismo/carnismo. Ou... ...diferentes ideologias dentro do movimento vegan. Debaixo das diferentes ideologias, num nível mais profundo, está um relacionamento entre pessoas. É aqui que temos que focar a nossa atenção se queremos ter relacionamentos saudáveis e comunicação eficaz. Temos de começar por retirar a nossa atenção do conteúdo das nossas diferenças, do que acreditamos e trazê-la para a maneira como nos relacionamos e comunicamos com outros seres humanos. O primeiro principio é manter o vosso sistema imunológico relacional forte ou resiliente. Resiliência é a capacidade de lidarmos ou recuperarmos de stress. Relacionamentos saudáveis são como corpos saudáveis. Eles prosperam quando o seu sistema imunológico é mais forte do que os germes que o desafiam. Faz sentido? Então, a receita para um relacionamento saudável é mantermos o nosso sistema imunológico resiliente, manter o nosso sistema imunológico forte e aprender como identificar e gerir os factores de stress exteriores, os germes que o desafiam. É disto que vou falar hoje. Um sistema imunológico relacional saudável é seguro e conectado. Estas são as duas questões centrais, ou coisas que precisamos de fazer para manter o nosso sistema imunológico relacional forte. Precisamos de nos sentir seguros e conectados. Segurança e conexão existem, como tudo na vida, num intervalo variável. O vosso relacionamento pode ser mais, ou menos seguro e conectado. Relacionamentos são essencialmente sobre necessidades. Não querendo simplificar, mas na verdade é assim simples. Nós sentimo-nos felizes e conectados nos relacionamentos quando as nossas necessidades são satisfeitas e sentimo-nos infelizes e desconectados quando as nossas necessidades não são satisfeitas. A necessidade das necessidades é a necessidade de segurança. Todos nós precisamos de nos sentir seguros e protegidos quando estamos numa relação com outra pessoa independentemente de quão próxima essa relação é. Quanto mais próxima for, maior a necessidade de segurança obviamente. Isto pode ser um desafio enorme para vegans num relacionamento ou simplesmente relacionando-se com não-vegans. Situações traumáticas, coisas que nos lembram a atrocidade do carnismo estão em todo o lado. Embora seja importante para todos nós cuidarmos da segurança das pessoas com quem nos relacionamos, eu cuido da segurança da minha familia, sendo que alguns deles não são vegan obviamente, é também importante para os vegans serem capazes de comunicar esta necessidade de segurança pois a balança não está equilibrada. A maioria das pessoas não se apercebe que quando se sentam à nossa frente a comer animais, podem-nos causar insegurança. Quantos de vocês se revêem nisto? As pessoas não se apercebem disto quando não são vegan porque não estão a ver o mundo pelos mesmos olhos que nós. Uma dica é identificar os vossos limites e pronunciá-los. Percebam quais são os vossos limites. Por exemplo, algumas pessoas podem estar numa relação com não-vegans desde que nunca sejam expostos a essa pessoa a comer animais. Outras pessoas, podem-se sentar à frente de alguém que está a comer animais. É muito importante que vocês saibam do que necessitam para se sentir seguros e para que sejam capazes de pronunciá-lo. O desafio, às vezes, é que quando falamos do que necessitamos e as pessoas respondem na defensiva. No meu livro eu tenho algumas sugestões sobre como podem pedir às pessoas que respeitem a nossa necessidade de segurança e aqui está um exemplo. Conseguem ver ou preferem que leia para vocês? Ler? Ok, deixem-me tentar. Vocês podem adaptar isto como quiserem. Quando eu olho para carne, ovos e leite mesmo que eu tente, eu só consigo ver partes de animais mortos. Eu não consigo evitar lembrar-me de videos horríveis que vi sobre como esses animais são criados e mortos e eu sinto-me automaticamente horrorizada.” Vocês não estão a tentar tornar a pessoa vegan, vocês estão apenas a partilhar com esta pessoa como é o mundo pelos vossos olhos para que ela perceba a vossa experiência. “Possivelmente sentirias o mesmo se a carne, os ovos e o leite viessem de cães e gatos. Não te estou a pedir para te tornares vegan, apenas para perceberes a minha experiência e porque é importante para mim não me expôr a produtos de origem animal.” Vocês sabem que muitas das vezes quando falamos de veganismo com não-vegans, as pessoas ficam na defensiva. Em parte porque estas defesas estão enraizadas psicologicamente, mas também em parte porque elas acham que as queremos “converter”. Relacionamentos em geral não são um lugar para activismo. Activismo em relacionamentos é complicado. Falaremos disso em alguns minutos, mas acho que vocês sabem do que estou a falar. Todos nós temos a necessidade de sentir que a outra pessoa que está na relação compreende a nossa experiência e todos nós necessitamos e merecemos que respeitem os nossos limites. Essencialmente, nós necessitamos de ser reconhecidos com compaixão. Reconhecer com compaixão é ver com os nossos olhos e mentes e também com os nossos corações, é ver a outra pessoa e a sua experiência sem julgar. Uma experiência dolorosa para muitos vegans é sentir-se invisível nos relacionamentos. Não ser visto. Uma das coisas mais importantes para nós, talvez uma das partes mais importantes da nossa vida, algo que vivemos com paixão e de que nos orgulhamos e que também nos perturba é invisível para as pessoas à nossa volta. Nós temos que afastar ou esconder esta parte fundamental de nós, nós temos que nos encolher para caber nos relacionamentos da nossa vida. Nos relacionamentos toda a gente precisa e merece que o seu mundo interior seja compreendido e visto. Toda a gente necessita de ser reconhecida com compaixão. A única excepção é quando alguém nos pede para o reconhecermos a ele e o que ele vos pede para reconhecer vai contra a vossa integridade ou vos faz sentir inseguros. Quantos de vocês se revêem neste sentimento de se sentirem invisíveis nas vossas vidas e relacionamentos? É desafiante e é impossível sentirmo-nos conectados quando nos sentimos tão invisíveis e a cultura existente não reconhece vegans. A nossa experiência é invisível ou quando muito mal representada. Uma maneira de pedir reconhecimento com compaixão é dizer algo deste género. Podem dizer “Como sabes, ser vegan é uma parte muito importante de quem eu sou. Os valores vegan são uma parte fundamental da minha vida. Quando eu sinto que não compreendes esta parte importante da minha vida, eu sinto-me invisível e que não posso ser eu própria contigo, como se tivesse que pôr partes de mim fora da nossa relação. Eu acabo por me sentir mais desligada de ti do que gostaria.” Mais uma vez, vocês aqui não estão a dizer que querem tornar o outro vegan, estão a dizer que se querem sentir mais conectados e não conseguem se sentirem que o outro não vos compreende. “Porque me quero sentir mais conectada contigo, quero ser capaz de partilhar informação sobre veganismo contigo. Não para te tentar mudar ou tornar vegan, mas para que me compreendas. Basicamente, preciso de saber que tu sabes como é o mundo através dos meus olhos e isso só é possível se perceberes o suficiente sobre veganismo e o que significa ser vegan. E com 'suficiente' quero dizer o suficiente para eu perceber que compreendes o problema e me compreendes a mim.” As pessoas podem responder assim... “Vai-te lixar!” Isso é informação importante para ti sobre essa relação na tua vida. Se estás a pedir a alguém que apenas demonstre empatia e que veja o mundo pelos teus olhos e que perceba o teu mundo interior e a tua motivação para que ela te perceba e para que te sintas mais próxima dela para que te sintas mais respeitada por ela e ela diz que não, isso é informação importante sobre essa relação. Se calhar precisas de dar espaço a essa relação com a outra pessoa. De qualquer maneira é útil saber o que queres, saber o que precisas e ser capaz de sentir que tens o direito de o pedir. É também importante para nós pedirmos a pessoas na nossa vida que sejam aquilo que eu chamo de aliados-vegan. Alguns de vocês talvez me tenham ouvido falar disto anteriormente. Toda a gente em relacionamentos precisa de ser um aliado para a pessoa com quem estão. Precisamos de saber que a outra pessoa nos apoia e que está do nosso lado. Isto é especialmente importante quando há um desequilíbrio de poder numa relação. Isto é o que acontece quando uma pessoa faz parte de um grupo não-dominante como os vegans e a outra pessoa não. Um aliado-vegan é uma pessoa que apoia o veganismo e apoia vegans mas não é completamente vegan...ainda. Muitas vezes os vegans, compreensivamente mas também problematicamente, vêem isto como “ou és vegan e és parte da solução” ou “não és vegan e és...” o quê? “És parte do problema!” Penso que neste momento menos de 1% da população global é vegan. Logo, nós estamos a afastar 99% do público. Muitas pessoas que fizeram imenso pelo veganismo e animais não são vegan. Eu posso dizer que possivelmente a maioria dos jornalistas que me entrevistaram e publicaram artigos que às vezes alcançaram centenas de milhares de leitores, talvez milhões, não são vegan. Pessoas que fazem doações à minha organização Beyond Carnism (Álem do Carnismo) nem sempre são vegan. Por alguma razão não estão preparados para serem vegan ainda e se lhes dermos uma oportunidade para serem parte da solução da maneira que puderem estamos a dar-lhes uma oportunidade de ajudar os animais, a dar uma ajuda que de outra forma não chegaria aos animais. Muitas pessoas em relacionamentos com não-vegans ficam frustradas não apenas porque a outra pessoa não é vegan mas porque a pessoa não é um aliado-vegan. Não sentimos que essa pessoa está do nosso lado. Aqui está um exemplo, este é o meu último exemplo, de como podem pedir a alguém para se tornar um aliado-vegan na vossa vida. Eu tenho estes exemplos no meu livro. Vocês podem fotocopiá-los e enviá-los a alguém se quiserem ou podem ajustar o conteúdo. No meu livro também tenho uma carta “Querido não-vegan” que explica a experiência de ser vegan e o que seria útil que essa pessoa percebesse para que os vegans se sintam mais reconhecidos e mais seguros e mais conectados. “Uma coisa que iria reduzir imenso o meu stress era saber que mesmo o resto do mundo não perceba o Veganismo ou a mim, tu percebes. Eu não te estou a pedir para seres vegan. Estou apenas a pedir para compreenderes o meu mundo para que eu não me sinta tão só. Preciso de saber que és meu aliado, que tu de todas as pessoas, me vês e que me apoias, principalmente quando as coisas são dificeis.” Eu encurtei isto um pouco. “Tu já fazes isto por mim de tanta forma...” É mais fácil pedir a alguém que seja um aliado se dermos um exemplo do que é um aliado noutros aspectos. "Mesmo tu não sendo vegan, eu preciso de saber que sabes o que é o Veganismo, o que significa para mim e o que é para mim ser vegan num mundo que não o é...” “O que acho que ajudaria mais era poder partilhar informação contigo sobre veganismo..." "E também me ajudaria muito poder falar contigo sobre a minha experiência enquanto vegan quando preciso, assim como falo contigo de tantas outras coisas na minha vida.” Como já disse, muitas vezes as pessoas conseguem navegar estas relações e sentir-se conectadas com pessoas nas suas vidas que não são vegan desde que saibam que esse não-vegan as compreende e é um aliado. Algumas pessoas na minha família ainda comem animais mas não me julgam, elas apoiam-me. Se vamos a um restaurante, elas são muito cuidadosas ao escolher o sítio. Elas não põem productos de origem animal na mesa. Bem, agora não põem mais. Mas durante algum tempo na maioria das vezes quando havia carne por exemplo, elas punham do outro lado da mesa, longe de mim. Isto faz uma grande diferença, isto é uma afirmação “Eu vejo-te, eu compreendo-te,” Muitas vezes, enquanto vegans sentimos “Oh, isto não está a resultar." "Eu não consigo ter uma relação com alguém que não é vegan, é difícil demais.” Mas na verdade, o que é difícil é sentirmo-nos desrespeitados e invisíveis ou não reconhecidos. Isto leva-nos ao segundo principio que é deixar a integridade ser o nosso guia. A integridade é a estrela polar da segurança e conexão. O grau em que praticamos integridade nas nossas interacções é o grau em que os nossos relacionamentos, incluindo o relacionamento com nós mesmos é mais seguro e conectado. A integridade é essencialmente a integração dos valores morais fundamentais e práticas. Uma dica é comprometermo-nos a dar o nosso melhor, não temos que ser perfeccionistas em relação a isto. E praticar o que eu chamo os três Cs da Integridade: Curiosidade, Compaixão e Coragem. Curiosidade é ter a mente aberta. Compaixão é ter o coração aberto. E Coragem...é ter a coragem de manter a mente e o coração abertos porque isso não é fácil de fazer. Mesmo que outras pessoas na vossa vida, não-vegans ou vegans não estão dispostos a fazer isto, vocês podem fazê-lo na mesma. E se vocês se comprometerem a praticar integridade e perceberem que as pessoas à vossa volta continuam a não responder e interagir com integridade, isso é informação útil sobre essas relações. Provavelmente o aspecto mais importante de praticar integridade é que isso nos ajuda a evitar julgar e envergonhar. Quero aproveitar para falar um pouco sobre vergonha e julgamento porque eles são cruciais para relacionamentos saudáveis e comunicação saudável e para criar um movimento vegan forte e eficaz. Como é que vocês definem “vergonha”? O que vos vem à cabeça quando ouvem a palavra “vergonha”? É similar a embaraçado. Qual é a diferença entre “vergonha” e “culpa”? Ambos podem ter a ver com a maneira como as pessoas nos vêem. Muitas vezes utilizamos “vergonha” e “culpa” indiferenciadamente mas não são a mesma coisa. Estás muito perto. Culpa é quando nós sentimos que fizemos algo errado. Culpa é eu sentir que fiz algo mau, é sobre um comportamento. Vergonha é o que sentimos sobre nós. Culpa é “eu fiz algo mau” e vergonha é “eu sou mau”. Percebem a diferença? Vergonha é sentir que somos menos do que deveríamos, mais especificamente é o sentimento de que não somos dignos. Vergonha é uma emoção tão perturbadora que é possivelmente a emoção mais disfuncional e problemática que existe em todo o repertório de emoções. A vergonha é tão perturbadora para o nosso sentido do “eu” que a maioria de nós faz tudo para evitar sentir-se desta maneira. Infelizmente, vivemos numa cultura dominante em que a vergonha é normal. A vergonha está tão normalizada que nós nem nos apercebemos que está a acontecer porque faz parte da nossa comunicação todos os dias e não estou a falar apenas do Facebook. A maioria de nós carrega imensa vergonha dentro de nós, todos nós carregamos alguma vergonha, é apenas uma questão do grau de vergonha que sentimos e temos. Todos nós nos defendemos de sentir mais vergonha. Ninguém quer sentir vergonha. Eu digo sempre que a melhor maneira de fazer alguém fazer o oposto do que queremos... é envergonhá-lo. Pessoas que sofrem de vergonha vestem uma armadura emocional para as proteger de mais vergonha. Pessoas que sofrem de vergonha afastam-se ou atacam. Pessoas que sofrem de vergonha sentem que não conseguem agir positivamente em relação a elas próprias ou aos outros. A vergonha é o kryptonita das relações e comunicação e eu diria que é também do movimento vegan. Já repararam como alguns dos nossos programas de divulgação são feitos? Muita da nossa comunicação com não-vegans é baseada na vergonha. E nós acreditamos que se os envergonharmos que isso os vai motivar a mudar. Infelizmente, na maioria das vezes acontece o oposto. O julgamento é o complemento mental da vergonha. Quando julgamos alguém, estamos basicamente a tomar uma posição de superioridade. Ou nós próprios, nós também nos julgamos. Quando julgamos alguém estamos a vê-lo com desdém, pode ser mínimo ou pode ser significativo. De qualquer das maneiras, vocês sabem o que é estar do lado que recebe o julgamento. Certo? Todos nós olhamos para nós mesmos através dos olhos dos outros. Quando vocês olham para vocês pelos olhos de alguém que vos está a julgar, como se sentem? Normalmente sentem vergonha. Essa vergonha pode rapidamente transformar-se em raiva, que é uma emoção protectora contra mais vergonha. Mas sentimo-nos inferiores. Quando somos nós a julgar outra pessoa estamos a pôr-nos numa posição de superioridade e a outra pessoa numa posição de inferioridade. Não nos conseguimos sentir seguros e conectados numa relação ou até numa interacção quando sentimos que a outra pessoa nos está a julgar. A integridade é um guia, é um mapa. Quanto mais praticarmos Integridade, Curiosidade, Compaixão e Empatia pelos outros, menor é a probabilidade de os julgarmos e envergonharmos. Eu voltarei a este ponto mais tarde. O grau em que a nossa relação reflecte integridade é o grau em que a nossa relação é segura e conectada. A primeira coisa que podemos fazer pelo movimento enquanto vegans e, vou falar disto daqui a pouco, por nós próprios e pelas nossas relações é comprometermo-nos a praticar mais empatia. A empatia é muitas vezes o antídoto do julgamento. É dificil julgar alguém se estivermos a ver o mundo pelos olhos desse alguém. Envergonhar os outros é um grande problema entre vegans. Quantos de vocês já repararam isto? Apenas um pouco... Isto na minha opinião é uma das coisas mais destruidoras que podemos fazer no movimento vegan. Posso-vos dar um exemplo de vários no Facebook. Conseguem ver? Alguém escreveu isto recentemente, penso que foi uma resposta a um comentário. “E essa perspectiva não ajuda os animais porra nenhuma!!" "Não tens problemas em consumir ovos das galinhas de quintal, mel ou utilizar pele de animais desde que os tenhas adquirido antes de te tornares vegan. Isso é ridículo!!" "Se realmente te preocupasses com os animais irias seguir a definição verdadeira de veganismo.” Nós ouvimos isto o tempo todo. O que não nos apercebemos é do estrago que isto faz. Isto desgasta. Desgasta a resiliência dos vegans que já vivem num mundo que cada dia ofende as suas sensibilidades mais profundas, os seus valores mais importantes. É preciso uma coragem enorme para viver neste mundo enquanto vegan, neste movimento que é tão recente e ir para casa, para as nossas famílias, para o mundo e ouvir que somos loucos, que estamos a exagerar, que somos sensíveis demais e depois temos outros vegans que nos tentam envergonhar. Eu já vi demasiados vegans a desistir do movimento porque sentiram que isto era demasiado. É como se estivéssemos a remar num barco salva-vidas com animais resgatados e envergonhar outros vegans é como fazer um furo no fundo desse barco. É sugar a energia que necessitamos. “Quando prejudicamos outros vegans prejudicamos animais.” Podemos ter opiniões diferentes. Diferença de opiniões é importante, conversas sobre ideologias diferentes e estratégias diferentes precisam de acontecer. E podemos também fazer isso praticando integridade que nos ajuda a crescer e nos fortalece e não nos diminui nem nos deita abaixo. Normalmente, os vegans são pessoas conscientes e são sensíveis para não prejudicar outros. Quando provocamos essa sensibilidade, imaginem o que acontece ao indivíduo que está do outro lado. O terceiro principio é aprender comunicação eficaz. Eu tenho um capítulo completo no meu livro apenas sobre comunicação eficaz. Comunicação eficaz é um grupo de aptidões, ferramentas e princípios que podem ser aprendidos por qualquer pessoa que o queira fazer. Vou-vos dar algumas dicas sobre comunicação eficaz. Uma é focarem-se mais no processo e menos no conteúdo da comunicação. Toda a comunicação tem estes dois componentes: o conteúdo e o processo. O que é o conteúdo? É a informação, certo? O conteúdo é aquilo sobre o que estamos a falar. O veganismo, por exemplo, é o conteúdo. O processo é a maneira como estamos a comunicar. Percebem essa diferença? É o “quê” e o “como”. Estudos demonstram que nas comunicações as pessoas lembram-se mais de um destes componentes. De qual é que vocês acham? O processo, certo? Pensem na vossa própria vida. Pensem sobre uma conversa que tiveram ontem ou há duas semanas atrás ou até um ano atrás. Se calhar esqueceram-se do conteúdo, já nem sabem do que falaram. Mas é provável que se lembrem do que sentiram nessa conversa, certo? Isso é o processo. O conteúdo importa, mas o processo importa ainda mais. Um processo saudável tem sempre o mesmo aspecto independentemente do que estamos a falar. Num processo saudável o nosso objectivo é compreensão mútua. A comunicação é o que temos que utilizar porque não temos telepatia. A comunicação é a ponte entre nós e outros. Nós comunicamos para que o outro compreenda os nossos pensamentos e sentimentos e vice-versa. Quando temos um processo saudável o nosso objectivo é compreensão mútua, é compreender e ser compreendido. O nosso objectivo não é estar certo. Se o nosso objectivo é estarmos certos o que é que isso significa sobre a outra pessoa? Estamos a torná-la errada. Em geral, isso não é uma forma eficaz de comunicar e certamente não é uma maneira eficaz de ter um relacionamento seguro e conectado. É importante evitar debater ideias. O modelo de debate funciona em circunstâncias raras. Funciona em alguns debates políticos, mas num debate o objectivo é ganhar. O que faz a outra pessoa... o quê? Perder! Isto não é uma receita para nos relacionarmos de maneira saudável. O modelo de debate é inerentemente desconectado. Quando temos um processo saudável comprometemo-nos a ser curiosos e a ter compaixão para compreender o outro e ser compreendido. Isto não quer dizer que aceitamos desrespeito. Pelo contrário, comprometemo-nos ao respeito. Quando temos um processo saudável, uma das coisas chave que não fazemos é definir a realidade. Quando definimos a realidade, nomeamo-nos experts na experiência do outro, mesmo que o que ele diga nos esteja a contradizer. “Ah, eu sei o que estás a pensar e a sentir mesmo que digas que estou errado." "Eu sei o que realmente se passa contigo.” Nós não conseguimos de todo saber o que se passa no interior da outra pessoa. Simplesmente não conseguimos. Nem os psicólogos conseguem. Quando permitimos que a outra pessoa seja a expert da sua própria experiência, damos-lhe uma dádiva e reduzimos a sua atitude defensiva significativamente. Definir a realidade é a base da disfunção, de muita da disfunção na comunicação. Está tão normalizado, nós fazemo-lo muitas vezes sem nos apercebermos. Eu disse anteriormente que olhamos para o mundo pelos olhos dos outros, olhamos para nós pelos olhos dos outros o tempo todo. Deixem-me dar-vos um exemplo de definir a realidade. Se uma criança depois de jantar diz aos pais que tem fome e os pais dizem “Não tens não, acabaste de jantar.” Isto é definir a realidade da criança. Isto é ensinar à criança a não confiar nos sinais que o corpo lhe dá. Ou nos sinais que os seus sentimentos lhe dão. E a acreditar na versão da realidade de outra pessoa em vez da sua própria. Deixem-me dar-vos um exemplo de como os vegans definem a realidade. Um não-vegan diz “Eu adoro animais.” Vocês sabem o que vou dizer a seguir, não sabem? “Não, não gostas, tu come-los!” Eu oiço isto imensas vezes. As pessoas falam comigo, muitas das minhas conversas acontecem em aviões. Elas vêem o titulo do meu livro “Por que é que amamos cachorros, comemos porcos e vestimos vacas.” E dizem, “Oh eu adoro cães, eu adoro animais.” Eu vejo isto como uma oportunidade para conversar. Outra forma de responder: "Que bom ouvir isso!" "Os animais neste mundo passam por tempos difíceis e precisam de toda a compaixão possível." "Eu adoro animais também. Por acaso, essa foi a razão que fez com que me tornasse vegan.” Vocês estão a regar as sementes certas, estão-se a focar na parte da pessoa que vocês querem que cresça. "Gostas de animais? Óptimo! Fala-me disso então." Eu tive uma conversa com uma mulher no avião que disse que adorava cães. E eu perguntei se só gostava de cães ou outros animais. Ela disse que gostava de todos os animais e por acaso estava a comer galinha enquanto falava comigo. E eu disse “A sério, fale-me mais sobre isso." "O que costuma fazer? Resgata animais?” E ela responde “Eu era sempre aquela criança que parava para ajudar o passarinho que estava aleijado ao lado da estrada.” E eu disse “O mundo precisa de mais compaixão pelos animais." "Eu também e foi por isso que escrevi o meu livro e foi a razão pela qual me tornei vegetariana.” E no fim desta conversa ela já me estava a pedir receitas vegan. Por isso reguem as sementes certas. Também podem perguntar que tipos de animais eles gostam. Ampliem a conversa. Mas não definam a realidade. Aqui está outro exemplo. O Vegan 1 diz: “Eu quero criar um mundo vegan.” E o Vegan 2 responde “Não, não queres." "Mesmo que tenhas feito filmes que mudaram a maneira como milhões de pessoas vêem comer animais e tenhas dedicado a tua vida à causa, usas sabão não-vegan por isso és um assassino de animais hipócrita.” Nós ouvimos isto o tempo todo. Ok... O quarto principio é identificar o germe do carnismo. Anteriormente falei acerca de relações saudáveis terem um sistema imunológico forte que consegue identificar e enfrentar os germes que o atacam. Um germe dominante em relacionamentos entre vegans e não-vegans é o germe do carnismo. Muitos de vocês estão familiarizados com o meu trabalho sobre carnismo. Eu não vou falar disso em detalhe aqui e falo um pouco mais no meu livro. Resumindo, o carnismo é a mentalidade que condiciona as pessoas a comer certos animais e está organizado à volta de defesas e distorções sobre a carne, ovos e laticínios e animais da pecuária e também sobre os vegans. Vocês sabem, quando estão a falar com alguém que não é vegan e tem o carnismo tão interiorizado que tudo o que vocês têm que fazer é dizer que são vegan...vocês sabem do que estou a falar... A pessoa fica “Oh meu deus!” As defesas levantam-se logo. Nós temos mesmo que perceber o carnismo e no meu livro eu explico como o carnismo é uma terceira roda num relacionamento. O carnismo triangula relações. Vocês sabem o que quer dizer triangular? É um termo que é utilizado em psicoterapia de relações para casais. Algo que triangula uma relação é um terceiro elemento que perturba a relação de duas pessoas. Não precisa de ser uma relação íntima, pode ser qualquer relação. Se duas pessoas estão numa relação e uma delas tem um romance com outra pessoa ou cai num vício ou quando um dos sogros é intrusivo ou algo do género que muda a dinâmica entre essas duas pessoas. No fundo há uma relação entre a Pessoa A e a Pessoa B e o terceiro elemento perturbador. Uma maneira de ver isto é pensar no carnismo como o elemento perturbador na relação. Ou seja, em vez de serem vocês contra o não-vegan, são vocês e o não-vegan unidos contra o carnismo que está a tentar criar problemas na vossa relação. Provavelmente, vocês dois querem estar seguros e conectados e felizes juntos. Este tipo de enquadramento pode facilitar a conversa sobre este problema. Nós temos que reconhecer estas “defesas carnistas” pois elas criam distorções enormes na percepção das pessoas. Se não estão familiarizados com o meu trabalho sobre as defesas carnistas eu escrevi sobre elas neste livro ou podem ir ao site carnism.org para mais informação sobre isso. Uma dica que quero dar hoje, que pode ser muito útil, é reconhecer como o carnismo distorce a percepção das necessidades e faz com que pedidos neutros sejam percebidos como exigências injustas. Os vegans normalmente não reconhecem isto e acabam por pedir desculpa por incomodarem as pessoas. Por exemplo “Por favor pode pôr o queijo de lado, peço imensa desculpa pelo incomodo. Muito obrigada!" O vegan pode dizer algo deste género: “Por favor pode pôr o queijo à parte da salada para eu poder comer também?” E ser percebido assim: “É melhor não pores nenhum queijo nessa salada e tornares-te vegan seu hipócrita comedor de carne.” A maneira como as pessoas respondem a este tipo de pedidos de vegans é muitas vezes o resultado desta distorção carnista nas necessidades dos vegans. Estar atento a isto pode ajudar a atenuar esta situação. Um efeito secundário ou sub-produto do carnismo é Stress Traumático Secundário. Alguns de vocês provavelmente ouviram isto. Falei disso aqui no ano passado. Stress Traumático Secundário é como o Stress Pós-Traumático. Vocês já ouviram falar de PSPT certo? Há apenas uma diferença. Qual é? O Stress Pós-Traumático afecta as vítimas directas de violência. O Stress Traumático Secundário afecta quem? O Stress Traumático Secundário afecta as testemunhas da violência. E quem são essas testemunhas? Nós! Vegans. Nós vivemos no meio de uma atrocidade global. A extensão do sofrimento é incompreensível para a maioria das pessoas e mesmo para nós que temos consciência disso. Estamos rodeados de trauma e somos lembrados disto, mesmo que não vamos ao Facebook ver aqueles videos horríveis que não vos recomendo ver. Nós estamos rodeados deste trauma cada dia, estamos rodeados dessas lembranças. Muitos vegans estão traumatizados com o que viram. E faz sentido. Uma reacção normal ao ser testemunha de trauma, é desenvolver Stress Traumático Secundário. É por isso que eu recomendo, em primeiro lugar, não chocar as pessoas com material traumático. Porque quando o fazemos, podemos traumatizar as pessoas, se elas não permitiram ou se não estavam preparadas para ver isso. Elas vão-vos ver como o mau da fita, o vilão em vez de vos verem como alguém que apenas as queria informar. Em segundo lugar, para vos proteger a vocês próprios deste trauma. Se vocês já têm consciência do que se passa, não há necessidade de alimentar essa parte traumatizada de vocês. O trauma é uma entidade que se quer manter viva em nós. Deixem-me contar-vos um pouco sobre os sintomas de trauma secundário e isto vai fazer mais sentido. Quando temos trauma ou trauma secundário podemos experienciar por exemplo, uma desregulação emocional. Isso significa que podemos sentir demasiado... ou podemos não sentir demasiado, ficamos anestesiados. Podemos oscilar entre estes dois extremos. Podemos sentir que os nossos esforços nunca são suficientes. E isto continua a acontecer num ciclo vicioso. Temos dificuldade em divertir-nos porque pensamos no que está a acontecer aos animais. Alguém se consegue rever nisto? Possivelmente muitos de vocês aqui...certo? Podemos ter pensamentos intrusivos. Isto são pensamentos que se intrometem na nossa mente quando não estamos à espera e não os queremos. São tipo flashbacks do sofrimento que vimos. Podemo-nos sentir culpados por nos sentirmos bem. Por isso nunca nos permitimos relaxar e divertir. E como consequência tornamo-nos cada vez mais misantropos. Eu conheço muitos vegans que estão a experienciar um nível alto de trauma e mesmo assim eles continuam a alimentar o trauma. Em parte isso acontece porque o trauma quer ser alimentado para se manter vivo. Muitas vezes, os vegans têm medo de deixar de sentir o trauma, de deixar de sentir aquela força ou a raiva que acompanha o trauma. Um certo nível de raiva é justificável mas mas muita da raiva que temos no movimento não é raiva saudável ou produtiva. E nós alimentamo-la! E quando fazemos isso, muitos vegans continuam a alimentar a raiva, o que não nos torna muito produtivos quando estamos a falar de veganismo. E alimentar o trauma... Porque temos medo que se o deixarmos de sentir, vamos parar de trabalhar para os animais. Eu sugiro que deem permissão a vocês próprios para deixarem sair o trauma. Deem permissão a vocês próprios para não estarem traumatizados. Quando chegamos ao nosso activismo e às nossas vidas, de um lugar interior de presença, de compaixão, de curiosidade, que não é possível quando temos muito trauma nas nossas vidas; quando chegamos ao nosso activismo com auto-conexão, segurança e ligação, nós trazemos mais eficácia para o nosso activismo e temos vidas mais sustentáveis. E somos embaixadores mais eficazes pelos animais. Eu nunca conheci um vegan, que deixou o trauma sair e deixou de ser activo. Normalmente acontece o oposto. São activos e não são motivados pelas razões erradas. São activos e são mais eficazes. À cerca das nossas relações e da nossa comunicação, uma coisa que é muito importante reconhecer, é aquilo a que eu chamo no meu livro de: a narrativa do trauma. O que acontece quando estamos traumatizados é que podemos começar a ver o mundo como um evento traumático gigante. Ou seja, na nossa mente começamos a olhar para o mundo pela lente do trauma. E dividimos toda a gente do mundo nestas três diferentes categorias: ou és uma vítima, ou és um vilão, ou és um herói. E não há áreas cinzentas no meio. Ficamos com tendência a exagerar estes papéis também. Exageramos o impacto daqueles que chamamos vilões. Exageramos o impacto daqueles que chamamos heróis. Às vezes pomos vegans, muitas vezes famosos, nestes pedestais e achamos que eles são responsáveis por salvarem o mundo, por salvarem os animais. O verdadeiro motor do movimento está por trás disso. O verdadeiro motor do movimento está nas pessoas que fazem o trabalho diário, que pode não ser tão visível, mas que está lá. É aí que estão os verdadeiros números. Quando vemos pessoas como heróis desta maneira ficamos com medo que eles estraguem essa imagem. E pensamos "Oh meu deus, esta vegan famoso foi visto a comer peixe, isto vai deitar o movimento abaixo!" "O não-sei-quem era vegan mas já não é..." por exemplo o Bill Clinton, lembram-se? Tornou-se vegan e depois começou a comer peixe. "Oh não, é desta que o movimento vai abaixo!" O que acontece nas nossas relações quando vemos as pessoas como vilões, por exemplo, porque elas "não são parte da solução", não são heróis vegan... Nós podemos estar com alguém nas nossas vidas, que infelizmente come animais. E na nossa cabeça, passam automaticamente de isto... para isto. A contribuição daquela pessoa, naquele momento, para o sofrimento animal é 0,00000001%. Mas na nossa cabeça vegan traumatizada é assim: "Tu és a razão pela qual aqueles porcos sofreram no video que vi hoje." Ou seja, tudo é exagerado na nossa cabeça e não há áreas cinzentas. Perdemos as nuances. Perdemos a capacidade de perceber que pessoas boas podem participar em actos maus. E isso não faz delas más pessoas. Todos nós fazemos. Todos nós o fazemos, ninguém deve ser posto num pedestal. E não faz sentido demonizar pessoas, principalmente quando o carnismo está tão normalizado. Nós somos doutrinados no carnismo. Muitas vezes somos vítimas... Muito deste culto do herói que praticamos é o resultado da nossa própria culpa de sobrevivente. Já ouviram falar de culpa de sobrevivente antes? Culpa de sobrevivente ou síndrome de sobrevivente é a culpa que uma pessoa sente quando sobrevive a um trauma e outros pereceram. Isto é muito comum entre veteranos de guerra, pessoas que estiveram envolvidas em acidentes, por exemplo. É um sentimento muito forte de culpa, simplesmente por ter sobrevivido. E muitos vegans sentem esta culpa de sobrevivente. Quando não reconhecemos a nossa própria culpa e não a tratamos, nós gerimo-la de uma maneira que alimenta o trauma. Alimenta o trauma em nós próprios e o trauma no movimento. Pessoas que se sentem culpadas tentam encontrar outras pessoas que sejam mais culpadas. E assim sentem-se menos culpadas em comparação. "Eu sinto que não faço o suficiente pelos animais, mas tu comeste uma bolacha que tem mel!" "Não vales nada!" Nós também acabamos por trabalhar demasiado. Uma maneira de gerir a culpa de sobrevivente é tornar-se viciado e workaholic compulsivo. E envergonhamos outros vegans. Dizemos que os outros vegans não são vegan suficiente. Há este perfeccionismo que é uma praga para o movimento. Muitas pessoas sofrem de perfeccionismo. E pessoas que são atraídas por um movimento com raizes morais ou motivado por questões morais, como o veganismo, tendem a ser pessoas conscienciosas. Pessoas que têm tendência a ser mais perfeccionistas. Muitas vezes, moralmente perfeccionistas. Quantos de vocês se revêem nisto, sentir que são perfeccionistas? Estou curiosa... Muita gente, era o que pensava! Não é mau querer criar...óbvio que nós queremos criar um mundo melhor. Nós temos uma visão da maneira que o mundo poderias ser. Mas o perfeccionismo limita-nos. Limita-nos de diversas formas. Quando somos perfeccionistas comparamos as pessoas a certos padrões irrealistas e depois zangamo-nos com elas quando não atingem esses padrões. Nós fazemos o mesmo a nós próprios. Uma das melhores coisas que podemos dar a nós próprios ou às pessoas com quem nos relacionamos é apreciar as nossas imperfeições. Nós somos todos pessoas com problemas, nós nascemos numa sociedade, num mundo que é, seguramente, insano. De diversas formas. Não conheço ninguém que tenha tido pais perfeitos. Se tu tens, fala comigo depois que eu quero entrevistar-te e conhecer os teus pais! Mesmo que os nossos pais sejam fantásticos, Hollywood estragou-nos. De uma forma ou de outras ficamos meio-malucos. A pergunta não é se somos malucos, mas que tipo de malucos somos. Se vocês derem permissão a vocês próprios para serem o ser imperfeito, desajeitado e maluco que são, se puderem abraçar a vossa imperfeição e ver que são as partes imperfeitas e desajeitadas em vocês que vos fazem belos. É aí que está a nossa beleza. Não é no exterior brilhante de moralismo perfeito ou o que quer que queiramos projectar para o mundo, mas na nossa humanidade autêntica de alguma forma. Se puderem abraçar esta parte de vocês, dão uma grande dádiva a vocês próprios E levam esta dádiva para as vossas relações com os outros. Porque eles não vão ter medo de ser eles próprios ao pé de vocês. E vocês abrem a oportunidade para conexão e criam maior segurança. Isto deixa as pessoas mais receptivas a ouvir o que vocês têm a dizer, principalmente. A coisa mais importante que podemos fazer para gerir o nosso trauma secundário é cuidar de nós. Enquanto vegans, focamo-nos muitas vezes nas necessidades de outros: dos animais, do movimento. Nós não nos focamos o suficiente nas nas nossas próprias necessidades. Como já disse, as pessoas são felizes e seguras e conectadas em relações quando as suas necessidades são satisfeitas. E não são felizes, nem seguras, nem conectadas quando as suas necessidades não são satisfeitas. A nossa relação principal é connosco mesmos. Se negligenciarmos as nossas necessidades, e isso chama-se auto-negligência, tornamo-nos menos resilientes. A coisa mais importante a fazer é reconhecer e cuidar das nossas próprias necessidades. Isto é tão importante para o movimento vegan no seu todo. Porque isto é o que nos faz resilientes. Lembram-se que falei do sistema imunológico relacional? Isto é o que desenvolve o nosso sistema imunológico interno. Pensem nele como um sistema imunológico psico-emocional. Quanto mais resiliente ele é, menor é a probabilidade de ficarmos doentes, de desenvolvermos stress e trauma secundário. Eu tenho uma outra apresentação sobre isto, está online em Carnism.org se estiverem interessados. Por acaso foi filmado aqui, possivelmente está também no site do IARC ou no youtube. Comprometam-se a cuidar das vossas necessidades. E as vossas necessidades existem a nível psicológico, emocional, físico... Por exemplo, não digam "Eu sei que preciso de dormir mais." e depois não durmam bem nos próximos 6 meses. Façam-no! Deem permissão a vocês próprios para o fazer. Por vezes é o nosso trauma e a nossa culpa de sobrevivente que nos impede de cuidarmos das nossas necessidades. E isto é um ciclo vicioso. Quanto mais negligenciamos as nossas necessidades, mais o trauma assume o controlo. E quanto mais o trauma assume o controlo, mais queremos negligencias as nossas necessidades. O último tópico, o quase último tópico, de que vou falar é praticar a aceitação. A aceitação é na verdade um conceito budista: aceitar ou não resistir aquilo que é. Quando se trata das nossas relações com os outros, a aceitação é uma generosidade que todos merecem. Isto não significa que aceitemos um mundo violento e que não o queiramos mudar, na verdade é o oposto. Quanto mais nos pomos num estado de aceitação, mais eficazes somos a mudar as coisas que não gostamos. Chegamos a essa mudança a partir de uma posição mais saudável. Quando falo de praticar aceitação, refiro-me a aceitar outro indivíduo como ele é. Simplesmente não o julgando. Vocês podem decidir que não conseguem tolerar estar numa relação com um não-vegan. Podem achar "Isto é demais para mim, não consigo." Tudo bem. Isso não muda o facto de que é preciso aceitar o outro como ele é, em primeiro lugar. Podem dizer para vocês: "Eu aceito que esta pessoa não é vegan, não a estou a julgar por não ser vegan... ...mas isso não é algo com o qual consiga viver." Isto apenas significa não julgar. E às vezes quando aceitamos os outros como eles são, eles mudam automaticamente. Às vezes as pessoas resistem a fazer mudanças, que de outra forma fariam, simplesmente porque não querem mudar por terem sido pressionadas ou obrigadas. Quando praticamos aceitação, não nos esforçamos tanto para tornar as pessoas na nossa vida vegan. Eu não estou a dizer para não defendermos o veganismo. Obvio, nós somos activistas. Isto é algo importante de fazer. No entanto, as nossas relações não são um lugar para activismo. O activismo tem o seu lugar, que normalmente não é nas nossas relações mais próximas. Quantos de vocês é que sentem que trabalham ou trabalharam...se calhar desistiram, para tornar as pessoas na vossa vida vegan? Certo? É muito comum. E na verdade, ironicamente, as pessoas mais próximas de nós são às vezes as menos receptivas ao nosso activismo. Repararam nisso? Conflitos de poder de longa data por vezes podem interferir. Estas dinâmicas de relação já existentes podem ajudar a complicar. É compreensível que nós queiramos que as pessoas mais próximas de nós sejam vegan, porque nos queremos sentir mais conectados e isso é uma forma de o fazer. É compreensível que o queiramos fazer. Mas normalmente não é uma boa gestão do nosso tempo. Conheço tanta gente que diz "Se eu conseguisse apenas convencer o tio Zé..." "Eu tenho andado a trabalhar nele há uns 15 anos, ele é difícil de convencer mas eu sei que há lá um coração de ouro em algum lado. Se eu conseguir lá chegar, eu sei que terei sucedido." Isto não é uma gestão eficaz do nosso tempo. Nós temos mesmo que deixar os números serem o nosso guia. Os animais dependem de nós sermos o mais eficazes possível. Deixem o impacto ser o vosso guia. Há, infelizmente, mais de 7 biliões de pessoas no planeta hoje em dia. Muitas delas não estão prontas para serem vegan ou irem na direcção do veganismo, mas muitas delas estão! Um bom uso do nosso tempo, em vez de gastarmos 15 anos com o tio Zé, é pegar nessa energia e alcançar as 500.000 pessoas que ainda não alcançamos porque estávamos demasiado ocupados a falar com o tio Zé. Vamos apanhar os frutos que já estão maduros. Se eu estiver a falar sobre veganismo com alguém e me aperceber no início da conversa que não estão receptivos, não é um bom uso do meu tempo. Eu avanço para outra pessoa, pois há muita gente que está receptiva. Deem permissão a vocês próprios para amarem não-vegans, mesmo que não amem o que eles fazem. Vocês podem amar alguém mesmo não amando, ou nem sequer gostando do facto de que eles comem animais. As vezes os vegans sentem a dor da desconexão nas suas relações inter-ideológicas porque eles sentem que se amam um não-vegan se estão a vender. Como se estivessem a desistir. Nunca há amor demais. Nunca há empatia demais pelo o mundo. Nunca há uma boa razão para não amar alguém, na minha opinião. Às vezes é só uma questão de darem permissão à vocês mesmos para amarem um não-vegan mesmo que não amem o que ele faz. Nós podemos encorajar as pessoas, se realmente queremos falar sobre veganismo, para serem o mais vegan que conseguirem. Isto é normalmente a maneira como eu falo sobre o veganismo. A maneira como eu defendo o veganismo quando surge em conversa. Eu tive uma conversa interessante à cerca de um ano, eu estava num avião... surpresa? Eu estava num voo de longo curso de regresso da África do Sul para Berlim. E a pessoa ao meu lado era um piloto jovem da Lufthansa, estávamos num voo da Lufthansa. Começamos a conversar e ele era muito simpático muito consciente politicamente e estávamos a ter uma conversa interessante. A questão do veganismo surgiu quando ele me perguntou porque tinha ido à África do Sul. Eu disse-lhe que era vegan. E ele respondeu-me "Eu antes era vegan." E eu disse...bem, eu não disse "Porque é que não és vegan agora?!?!?!?!" Eu perguntei "O que te motivou a tornares-te vegan anteriormente?" Eu estava curiosa. Reguem as sementes certas. E ele disse "Direitos dos animais." Eu perguntei "Foi saúde?" e ele disse "Não. Não, foi completamente ético." "Direitos dos animais." Ele era um grande apoiante dos direitos humanos, por isso eu não fiquei muito surpreendida. E enquanto ele me contava isto, fazia-o com paixão. E então eu disse: "Então, porque deixaste de ser vegan?" E ele disse "Como piloto, é simplesmente impossível." "Eles ligam-me à última da hora, tenho que apanhar um voo." "Como cenouras se tive a sorte de as ter no frigorífico para trazer." Vocês sabem, eles precisam de pelo menos 24 horas para ter uma refeição vegan num avião. Mas isso é outra conversa. Mas simplesmente não era sustentável. E ele disse que às vezes aterrava num sítio, era tarde, ele estava cheio de fome, e ele ia ter que comer uma sandes com queijo porque não havia sandes vegan. Basicamente a cada par de semanas ele comia uma fatia de queijo. E porque ele não se podia intitular de "vegan", mais uma vez isto: o que é ser vegan? Ele pensou "Não sou vegan, então qual é propósito disto?" Então ele voltou aos velhos hábitos e voltou a cair no carnismo completamente. Eu disse: "Então foi isso?" "Bem...então... porque não tentas ser vegan dentro do possível?" Ele olhou para mim e disse "Posso fazer isso?" Tipo, a pedir permissão. Eu disse "Acho que podes." E ele disse: "Isso é uma óptima ideia!" Ele disse "Se puder ser vegan dentro do possível, acho que consigo ser 95 a 98% vegan." Isto é algo muito importante de que nos devemos lembrar como o Tobias falou anteriormente. Se dermos permissão às pessoas para serem vegan dentro do possível, se toda a gente fosse vegan dentro do possível, o mundo tornar-se-ia vegan rapidamente. Quando pedimos às pessoas para serem vegan dentro do possível, nós não estamos a definir a realidade delas. Não estamos a dizer "Ser vegan é tão fácil, tu consegues, começa amanhã e nunca voltes atrás." Não estamos a definir a realidade dos outros. Não estamos a dizer "reduz". Isto é reducitarianismo mas não estamos a pedir para reduzirem para que a redução seja um fim. Ser vegan dentro do possível, põe o veganismo como o objectivo final e honra a sustentabilidade pessoal. E mesmo nas vossas relações, se a conversa surgir e falarem de aliados vegan, perguntem "o que significa para ti ser vegan dentro do possível?" Podem descobrir que as pessoas estão mais receptivas de se moverem na direcção da vossa ideologia ou estilo de vida do que achavam. O meu último ponto é honrarem-se a vocês mesmos. Isto vai um pouco de encontro a cuidarem das vossas necessidades, honrem-se a vocês mesmos. Respeitem-se a vocês mesmos. Como eu disse, é um desafio e de várias maneiras é incrivelmente fortalecedor ser vegan neste mundo, é incrivelmente fortalecedor, incrivelmente importante. É também um desafio. Temos que navegar estas relações complicadas e comunicações e mesmo assim continuamos a fazê-lo. Nós somos pioneiros. Isto não é à toa. O que fazemos está a resultar. Não há dúvidas disso. O veganismo está a crescer. Eu estive em imensos sítios por todo o mundo e tenho visto o movimento vegan a crescer em todo o lado, sem excepção. Não tenho dúvida que o veganismo vai substituir o carnismo um dia com ideologia dominante. A questão que tenho não é "Se?" mas "Quando?" Neste momento, o movimento está a crescer rapidamente, mas é também um movimento jovem. Nós somos pioneiros neste movimento. É preciso uma integridade tremenda e uma coragem tremenda para pavimentar o caminho para um futuro melhor. Um futuro melhor para outros vegans que não precisarão de ir a apresentações como esta, porque serão o grupo dominante, provavelmente. E um futuro melhor para os animais. Por isso honrem-se a vocês mesmos. Lembrem-se, a mudança está a acontecer. A mudança está a acontecer mais rápido do que alguma vez imaginei. Na verdade, há muito pelo que sentir gratidão e entusiasmo. No fundo, honrem a vossa verdade e saibam que são parte de algo que é maior do que o vosso ser individual. Nós somos todos parte de um movimento social, que eu acredito que um dia seja visto como um dos, ou mesmo o movimento social mais importante e transformador da história humana. Lembrem-se disso e isso irá manter a vossa energia e as vossas energias carregadas como acontece comigo. Quero acabar dizendo obrigada por tudo o que vocês são e tudo o que vocês fazem e por serem verdadeiramente parte da solução. Obrigada! Obrigada! Vocês são fantásticos! Mais uma vez, o meu livro explica mais a fundo isto do que eu poderia nesta apresentação de hoje. Nós não temos livros aqui, a encomenda está na alfândega na Alemanha. Há muitos livros, mas estão na alfândega em Berlim. Mas podem fazer a reserva na Amazon. Peço desculpa por causa disso. Penso que temos 10 minutos para perguntas. Eu não vos consigo ver bem, por isso levantem a mão. - Muito obrigada pela apresentação tão inspiradora, eu tenho 2 questões se possível. A primeira é à cerca de relações 1 a 1 e sobre falar com a outra pessoa. No meu caso nós crescemos e não fomos ensinados a falar sobre relações, há uma certa resistência para falar sobre isso, por isso, falar sobre veganismo e ultrapassar a resistência de falar sobre os nossos sentimos nas relações. O que achas disso? O que recomendarias quando temos essa resistência na relação? Deixa-me responder a essa primeiro, é uma boa pergunta. Algumas pessoas não falam sobre relações antes de mais. E isso é outro nível de resistência que é preciso ultrapassar, por isso é uma boa pergunta. O que fiz no livro, foi adicionar vários apêndices onde há estes guiões e alguns são mais curtos do que os que mostrei aqui, e podes modificá-los como precisares. Nem precisas de os enquadrar como "relação". E isto também é diferente em línguas diferentes e culturas diferentes. Por exemplo, nos EUA podemos usas uma linguagem mais floreada e efusiva, mas na Alemanha isso não cai tão bem. Tens que adaptá-los. O primeiro passo é perceberes o que precisas. Tenho um guião focado apenas em pedir para sermos respeitados. E diz algo como "Eu sei que a tua intenção não é desrespeitar-me, mas quando dizes isso eu sinto-me desrespeitada por estas razões." Não precisas de enquadrar como "Quero-me sentir mais conectada a ti e ter uma relação melhor contigo." Podes dizer... "Esta conversa... ou eu sinto-me... incomodada e desconfortável quando há comida ou conversas sobre comida, e quero que percebas porque é que isto acontece." Não precisa de ser sobre a relação. Podes simplificar e usar palavras que resultam na conversa. - A minha segunda pergunta é sobre as relações e dinâmicas de grupo ao contrário das relações 1 a 1. Por exemplo grupos de amigos ou colegas, quando estamos a conviver em geral e somos a minoria e na maioria a responsabilidade está diluída. Gostaria de saber quais são as tuas ideias sobre isso. Isso é outra boa pergunta. Se estás numa situação de grupo e até pode ser a tua família esse grupo... Grupo de trabalho, grupo familiar, é sempre mais fácil começar com uma pessoas que possa ser teu aliado. Há uma grande diferença quando duas pessoas tomam uma posição acerca de algo ou quando é apenas uma. A diferença é exponencial. Podes encontrar essa pessoa na tua família ou na tua organização que aches que será receptiva, E dizer: "Posso falar contigo sobre um assunto? Isto é muito difícil para mim" "Quando o pai faz estes comentários à mesa eu sinto-me completamente alienada. Só queria que soubesses isto, podes-me ajudar?" E depois são duas pessoas a dizer "Isto não está bem." Ou duas pessoas a pedir opções vegan. E assim começas com um aliado pelo menos. - Muito obrigada. - De nada. - Há mais perguntas? - Obrigado. A maior parte da apresentação foi sobre o que devemos ou não dizer para sermos mais eficazes e isso óptimo. Mas às vezes acabamos por dizer coisas até quando estamos em silêncio. No outro dia estava com dois amigos e um ofereceu-nos waffles. O que é que ele vos deu? - Waffles. Ah, waffles, sim. E eu sabia que se eles comessem e eu não, que eles se sentiriam julgados por mim. Porque eu não ia comer nada. E eu disse OK e a waffle nem sequer era boa. E tu falaste do jantar com a tua família em que eles têm carne do outro lado da mesa e respeitam-te. Como é que consegues gerir o facto de que mesmo quando não dizes nada, eles sabem que estás a pensar. Como é que tu sabes o que eles estão a pensar? - Eles são como nós, eles sabem que nós somos vegan. Eles sabem porque é que somos vegan... está na mente deles, tem que estar... Eu acho que, bem... Eles não são como nós em algumas coisas, pois eles não são vegan e não pensam desta maneira. Uma maneira de começar seria não tentares assumir o que os outros estão a pensar. Porque mesmo que não o digas, estás a definir a realidade deles. Estás a fazer assunções sobre o que se passa na mente de outra pessoa. Podes estar certo, mas também podes não estar. Eles podem não pensar nisso porque não querem saber e comer não é uma questão moral para eles. Isto pode ser apenas uma assunção que estás a fazer. Podes também dizer. Normalmente podemos dizer o que é a verdade para nós. Podes dizer apenas: "Eu não quero a waffle porque tem ovos." Era uma waffle não-vegan estou a assumir? - Sim, sim. Não era vegan e se não quiseres, "Eu não quero a waffle porque tem ovos, mas não quero que pensem que vos estou a julgar. Não estou." Diz o que é verdade para ti e o que te vai na mente, se o quiseres fazer. Ou se não te fizer diferença e achares que é um mal menor, podes comer a waffle. Ou podes perguntar-lhes. "Eu não quero comer esta waffle, mas fico preocupado que vocês façam assunções sobre vegans, mas espero que não façam essas assunções." Ou podes fazer o que eu costumo fazer, transformá-lo numa piada. "Eu não quero ser aquele estereótipo de vegan que estás a pensar." Diz aquilo que é verdade para ti. A transparência faz toda a diferença. Às vezes quando nos sentimos presos e não sabemos o que dizer, dizer a verdade e com compaixão, normalmente esse é o melhor caminho. É também o caminho mais difícil de alguma forma. Porque estás a ser vulnerável, estás a mostrar uma parte vulnerável de ti. - Acho que ainda temos tempo para uma pergunta. Vejo duas mãos. Ok, estas vão ser as duas últimas perguntas. - Obrigada pela excelente apresentação. Gostaria de saber qual é o teu conselho. Às vezes estou com família ou amigos que são vegetarianos ou estão a caminho e cada vez que os vejo eles querem falar, usam-me como uma espécie de confessionário. Dizem-me "Comi isto ou vi isto ou o que achas disto..." E eu sinto-me cansada de estarem constantemente a falar sobre veganismo e comida. Às vezes sinto-me como o juiz das outras pessoas e não o quero ser. Eu penso "Come o que quiseres". Eu estou a fazer a minha cena, faz tu a tua cena. Eu nem sempre quero falar disso, depois de ter passado o dia inteiro a tratar de assuntos ligados aos direitos dos animais. Apetece-me falar de política ou do tempo até. Algo leve, tipo política! Essa não cai muito bem nos EUA. É mais fácil falar de veganismo do que política neste momento. Bem, há duas partes no que disseste. Pode ser que estejam a falar contigo em estilo de confissão. Mas não podes ter a certeza, se calhar estão mesmo curiosos. E estão a tentar retirar informação de ti porque querem ir na direcção do veganismo. Eu teria cuidado ao fazer assunções sobre a motivação das pessoas a não ser que elas a tenham dito. Mesmo assim, muitos vegans tem a experiência de serem marcados como o porta-voz do movimento. Não somos vistos como uma pessoa, somos reduzidos. Como: um vegan é um vegan e todos os vegans são iguais. Somos marcados. Mais uma vez, podes fazer o que eu faço nessas situações e dizer: "Aqui está um óptimo website para mais informação." "E a última coisa de que quero falar neste momento é sobre veganismo, não leves a mal mas é nisso que eu trabalho, vamos falar do Trump!" Não, quero dizer, outra coisa... Di-lo apenas. Sê honesta e directa e podes reconhecer o facto de que eles estão curiosos. Diz: "Estou muito grata que tenhas estas questões." "Porque demonstra curiosidade sobre algo que a maioria das pessoas não tem curiosidade." Isto é importante. E ao mesmo tempo, não "mas" porque nega o que foi dito antes. "E ao mesmo tempo eu falo sobre veganismo o dia todo e acho desgastante por isso é importante para mim de me separar e afastar disso." E também podem partilhar porque é que isto vos deixa desconfortáveis. "Eu não te quero dizer isto, pois fico muito entusiasmada que tenhas estas questões e não te quero desencorajar, mas falo sobre isto o dia todo e preferia falar de outras coisas agora." Mais uma vez, ser honesto e directo. Parece que é uma ideia radical no mundo ser honesto, directo e transparente. Tem piada mas é verdade. - Em primeiro lugar obrigada pelo teu livro. Eu comprei-o na Conferência Nacional dos Direitos dos Animais. - O livro? Óptimo! - Eu comprei-o e é muito útil. Quando me tornei vegan eu tinha saído há uns meses de uma relação de abuso psicológico, com um homem que vim a descobrir já tinha trabalhado num matadouro. Eu já estava bastante traumatizada quando entrei no movimento. E o teu livro ajudou-me a sair disso e ajudou-me a estabelecer limites. E a aprender a cuidar das minhas necessidades e a cultivar relações saudáveis. No entanto há uma coisa que mencionas no livro, a ideia do bode expiatório e da ovelha negra. E eu apercebi-me que isso sou eu na minha dinâmica de família. Eu absorvo a tensão que existe na minha família e depois levo com as culpas todas. Podes falar um pouco mais sobre isso e de como quebrar essa dinâmica? Como não tenho umas 3 horas, vou tentar resumir. Ela está a referir-se ao papeis que as pessoas desempenham no seu sistema de família e um dos papeis que desempenhamos, ou uma criança pode crescer a desempenhar é chamado de ovelha negra. Conhecem essa expressão "ovelha negra"? Na maioria das vezes é a criança que é um pouco diferente. A minha suposição é que muitas pessoas que se tornam vegan, tinham o papel de ovelha negra na família. E depois é tipo "E agora és vegan, claro que sim, tu tinhas que ser." Umas das razões pelas quais pode ser difícil de falar sobre veganismo no sistema familiar, é porque ficamos presos a estes papeis. Terem consciência do papel que desempenharam e tornarem-se saudáveis vocês mesmos é a chave. Todos estes princípios de que falei anteriormente, não têm que ser praticados por todos. O que algumas pessoas descobrem é que ao tornarem-se saudáveis elas mesmas, ao deixarem de desempenhar o papel da ovelha negra, ao deixarem de jogar o jogo do vamos fingir "nada ouvir, nada ver, nada dizer" Tipo, vamos ficar em negação e não vamos falar sobre as coisas e sobre sentimentos. Ao crescermos, evoluirmos e amadurecermos, podemos descobrir que não nos inserimos no nosso sistema familiar da mesma forma porque o sistema não está a mudar, nós é que estamos. E depois tens que pensar em mudar as tuas relações com as pessoas nesse sistema. É possível que já não sejam tão chegados. Se calhar tinhas aquela relação com a tua mãe em que lhe contavas tudo. E agora apercebes-te que desde que cresceste e ela que quer puxar de novo para esse papel e isso não resulta para ti, tens que estabelecer mais limites e mais distância. Tu ama-la na mesma, ela é tua mãe. Mas relacionas-te com ela de maneira diferente. Não esperas que ela seja tão autêntica e conectada contigo como anteriormente. Nós não podemos mudar as outras pessoas. Podemos tentar, mas não podemos obrigar as outras pessoas a mudarem. O que podemos fazer é trabalhar em nós próprios e comprometermo-nos a praticar integridade nas nossas relações e desta forma, as pessoas que acabam por estar nos nossos circulos mais chegados são pessoas que têm o mesmo nível de integridade e consciência que nós temos. E mantemos as outras pessoas a uma distancia maior e isso protege-nos da dinâmica disfuncional e às vezes isso é o melhor que conseguimos fazer. Eu nem acredito que utilizamos todo o tempo, eu tinha 80 minutos e eu pensei que íamos ter uma meia hora para perguntas. Mas aqui estamos, feito! Vocês foram fantásticos! Muito obrigada! E vejo-vos nos próximos dias..

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